quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

A LOJA DE BRINQUEDOS

Dedico esta história às escolhas

Eu queria todos os brinquedos daquela loja, no entanto, tinha que escolher apenas um. Eu sabia que todos eles eram especiais e que poderiam me trazer grande alegria e satisfação. Ainda assim, meu pai me dava o direito de escolher apenas um deles. Revoltado com o limite que meu pai me impunha, debatia-me diante daquelas prateleiras recheadas de lúdicas possibilidades tentando realizar uma escolha que não me fizesse sentir subtraído.
Ao meu lado, presenciei o discurso tentador do pai de uma outra criança tentando oferecer à mesma tudo aquilo que o meu firmemente negava-me oferecer:
— Escolha tudo que desejar!
Curiosamente, aquela criança olhava com desprezo para as prateleiras. Uma falta de desejo nutria o seu ser. Finalmente, com um semblante indiferente resmungou insatisfeita:
— Eu quero ir embora. Nenhuma porcaria destas me agrada. Já tenho tudo isto e muito mais. Eu não quero nada. Eu não preciso de nada!
Naquele momento pensei:
— Ai se eu fosse como este menino e não desejasse nada... Seria tão bom!
Aquilo tudo ficou guardado em minha memória. Naquele momento, eu ainda era jovem demais para compreender o sentido daquela cena que passara diante dos meus olhos. No entanto, a minha alma de criança a guardou na memória para que eu pudesse resignifica-la mais tarde.
Hoje, eu não posso ter mais um pai ao meu lado para negar-me a realização imediata de todos os meus desejos, pois ele não se encontra mais disponível nas prateleiras de minha vida. Hoje meu pai é o precioso brinquedo que não posso ter. Ele vive e está acessível apenas nos meus sonhos.
Também não posso ter um carro do ano, pois ele não cabe nas prateleiras de meu salário atual. Fico a lembrar como elaborei na minha saudosa infância a não aquisição daquele carrinho tão desejado que não pôde ser comprado por ser caro demais e não caber nas prateleiras do orçamento doméstico de minha família.
Lembro-me também que não pude ter todas as namoradas que desejei na adolescência, mas que pude escolher uma bem especial, a que mais gostei e com a qual me casei e tive meus filhos.Vejo agora que não posso escolher o futuro que desejo para eles, mas que posso amá-los incondicionalmente.
Desejei quase tudo, mas pude escolher apenas o que era especial para mim. Hoje vejo que este limite é tudo de especial que um ser humano não deseja, mas que realmente precisa. Quando me lembro daquela criança que aparentemente tinha tudo, fico a pensar se em algum momento de sua vida ela teve a benção que meu pai jamais me negou: “Poder escolher o que de mais especial toca nossos corações”. Acho que ela não teve aquilo que com fartura tive durante toda minha vida: “Desejo”. Acho também que aquele menino não aprendeu a arte que nos faz seguir em frente na vida: “Saber escolher aquilo que realmente necessitamos para o nosso desenvolvimento”. Hoje eu concluo que ele tinha tudo e não tinha nada. E eu? Eu não tinha nada que não fosse realmente útil e importante na minha vida.
Neste momento sinto que preciso agradecer meu pai por tudo que não me deu:
Obrigado por ter me ensinado a desejar e escolher. Obrigado por ter subtraído futilidades e adicionado conquistas em minha vida.

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