A MATEMÁTICA DOS SENTIMENTOS
Em algum lugar, na matriz da vida,
viveu por nove meses, tempo relativamente curto, um ser formado graças à junção
de outros dois que separados estariam fadados à morte e juntos ao crescimento.
Unidos, tornaram-se um só revertendo a exata operação matemática 1+ 1 = 2 para 1+ 1 = 1. Nesta relatividade matemática
e num movimento constante de expansão e evolução instaurou-se neste ser a
consciência de conjunto. Ser um conjunto vazio, unitário, finito ou infinito?
Eis a questão a ser vivida e compreendida pelo novo ser em desenvolvimento
contínuo. Num primeiro momento, ao ser gestado, preferiu não pensar nisto. O ventre acolhedor
onde vivia lhe parecia perfeito, desta forma, qual a razão para quebrar a cabeça?
A sensação de completude, a consciência de união e de expansão sempre presente
gerava o combustível para continuar a sua jornada por uma trilha chamada Vida,
cujo princípio se baseava inicialmente num nirvana total caracterizada por uma
operação cuja adição de prazeres multiplicava o encanto de viver. No entanto,
repentinamente, o mundo se transformou lhe impondo a dolorosa operação de
subtração. Foi jogado num universo novo onde experimentou pela primeira vez o
sofrimento e a dor. Sentiu-se dividido. A dor chegou lhe arrancando algo que
ilusoriamente pensava fazer parte de si: o mundo acolhedor que vivia.
A sensação de completude e plenitude
dissipou-se. Teve um desejo enorme de resolver uma operação irreversível
voltando ao tempo, no entanto, o tempo parecia determinado a seguir sempre em
frente. Começou a perceber, lentamente, que era parte de um mundo e não o
contrário, ou seja, que não era o mundo parte de si. O antigo sentimento de
auto-suficiência se transformou em fragilidade. A suficiência deixou de ser um
atributo seu, deveria agora busca-la em algum lugar deste novo mundo onde fora
jogado sem a sua vontade. Percebeu que a sua vontade não era tudo, que as
coisas aconteciam independente dela.
Perdido, cheio de dor e fragilidade,
foi caminhando por um bom tempo pela estrada chamada Vida onde se deparou, na
primeira encruzilhada, com uma entidade nova e interessante. Perguntou o seu
nome e ela respondeu:
—
Eu me chamo Ilusão.
Surpreso com a beleza da mesma empreendeu, curioso,
uma nova pergunta:
—
Você está a serviço de quem?
—
Estou a serviço de todos. Respondeu Ilusão.
—
A meu serviço também?
—
A serviço de todos que não aceitam esta estrada tortuosa chamada Vida tal qual
ela é. Esclareceu Ilusão.
—
Me explique melhor. Solicitou
—
Aos seres inconformados poderei trazer de volta tudo que ficou perdido.
Elucidou Ilusão.
Ditas estas palavras, apareceu um outro
ser em forma de luz com um semblante confortador que o pegou no colo e o
embalou tranquilamente. Sem saber ao certo o que estava acontecendo, perguntou
confuso:
—
E você, quem é?
Não obteve resposta alguma. Aquele ser
se limitava, serenamente, a embalá-lo. A sensação de conforto experimentada
naquele momento mágico lhe trouxe a lembrança do mundo perdido onde tudo
parecia ser perfeito e completo. Ilusão, querendo lhe confortar ainda mais lhe
disse:
—
O ser que te embala se chama Esperança. Ela lhe confortará até você se
encontrar com tudo que foi perdido e se sentir inteiro novamente.
—
Quando eu resgatar o que perdi, ela me deixará? Perguntou receoso.
—
Ela não o deixará. Você não precisará
mais dela, pois ao encontrar seu elo perdido será novamente auto-suficiente e
não sentirá mais a dor da necessidade e do desejo. Garantiu-lhe Ilusão.
—
Seria maravilhoso, pois é muito difícil conviver com a Necessidade e com o
Desejo. Eles estão sempre esfomeados me solicitando coisas que nem sempre tenho
para lhes oferecer. Nesta cobrança incessante, acabei tendo que conhecer uma
tal de Frustração. Não fui com a cara dela. Sinto-me mal perto dela, mas ela
parece não se mancar e permanece presente mesmo quando me esforço ao máximo
para afastá-la.
Ilusão, rapidamente, lhe propôs uma solução para este
desconforto:
—
Se me levares sempre contigo, jamais terá que suportar a chata da Frustração.
Nós duas não combinamos. Ela jamais se aproximará de você ao perceber a minha
presença.
Diante deste convite irrecusável de não
ter mais que suportar a inconveniente Frustração, o frágil ser deu as mãos para
Ilusão e continuou a sua caminhada. Quanto mais apertava a sua mão mais
protegido se sentia. A cada passo que dava, Ilusão lhe assegurava que, na
próxima encruzilhada, encontraria tudo que fora perdido. Sem perceber, o tempo
passou rapidamente, quando, inesperadamente, deparou-se com um ser bem parecido
consigo. Foi um encontro emocionante! Os dois se entreolharam. Que estranha
sensação! Eram parecidos e diferentes ao mesmo tempo. Conseguiram, com
reciprocidade, ver no outro o saudoso mundo perdido. Tudo aquilo que haviam perdido parecia estar
no outro. Perplexos, se indagaram:
—
Você tem o que preciso. Como posso resgatar tudo que vejo em você?
Satisfeita, Ilusão sussurrou-lhes ao ouvido:
—
Lhes prometi o resgate de tudo que foi perdido. Aqui está o elo perdido, a parte
que lhes falta. Apropriem-se dela e
estarão, definitivamente, completos e em condições de viverem com a plena e
eterna Felicidade. Partirei, mas deixarei com vocês a minha mais perfeita obra.
Enquanto estiveres acompanhados por ela jamais se sentirão frágeis ou tristes.
Naquele momento, foi concebida a união
e a fusão daqueles dois seres que pareciam se completar. Juntos, pareciam ser
um só todo indivisível. Iniciou-se, neste momento, a gestação de um conjunto
unitário e a intrigante operação matemática 1 + 1 = 1, possibilitando à Ilusão
parir, orgulhosamente, a maravilhosa obra que serviria de companhia para os
mesmos. Ficaram surpresos e alucinados com o nascimento de uma nova obra parida
por Ilusão. Um novo ser foi sendo concebido e junto com ele uma deliciosa onda
de calor que parecia um fogo a queimar todas as insatisfações cuja combustão se
transformava em prazer. Querendo conhecê-lo melhor, investigaram a sua
identidade:
—
Meu nome verdadeiro é Paixão, mas as pessoas gostam mesmo de me chamar de Amor.
Amor passou a ser o apelido que encarnei e chego a me esquecer de quem sou
realmente.
Aquecidos pelo calor da Paixão,
sentiam-se cada vez mais unidos e completos. Sem saber ao certo como
identificar e nomear aquele novo ser que os acolhiam, perguntaram:
—
Como você gostaria de ser chamada?
—
Depende apenas de vocês. Se me chamarem de Amor se sentirão mais seguros.
Respondeu, com astúcia, a Paixão.
—
Assim seja! Você é o amor que nos acompanhará para sempre. Juntos, seremos uma
fortaleza. Encontraremos a Felicidade e nada neste mundo poderá nos entristecer.
Queremos viver esta plenitude e nada mais. Encontramos a parte perdida, não há
nada que possa nos separar. Somos perfeitos um para o outro. Anunciaram,
entusiasmados, os dois seres entorpecidos pela paixão.
Viveram assim por um bom tempo,
viciados um no outro. Qualquer separação, mínima que fosse, gerava um
desconforto semelhante à síndrome de abstinência experimentada por usuários
viciados em drogas. Diante de qualquer desconforto, tratavam de se fundirem
rapidamente e a dor desaparecia. Isto aumentava cada vez mais a dependência e a
certeza de quanto um era necessário e a parte fundamental do outro. Eles se
bastavam. O mundo ao redor já não era tão importante, pelo contrário,
dependendo da situação chegava a atrapalhar. Não havia espaço para outros
integrantes num conjunto unitário. Foi assim que começaram a viver os seus
primeiros conflitos. Alienados um no outro, a dor desaparecia. “Dizem,
inclusive, que os alienados sofrem menos, talvez por estarem fundidos numa
coisa só, numa visão estreita da Vida”. Quando dirigiam atenção ao redor, a dor
voltava. Quanto maior a atenção às coisas de fora, maior o sofrimento. Para
evitar turbulências que causavam dor,
tornou-se necessário formar um pacto que pudesse evita-las. Combinaram:
—
Olharemos apenas um para o outro e seremos a única coisa que realmente dá
sentido à vida. Nada poderá ser mais importante ou mais interessante do que nós
mesmos. Nos bastamos!
Apesar de todos os esforços, apareceu, subitamente, um novo ser extremamente sedutor chamada
Curiosidade que passou a ser uma verdadeira tentação. Curiosidade pronunciava,
repetidamente, uma palavra perigosa mas,
tentadora. De tanto repeti-la foi criando um novo vício. Era um suplício
renunciar aos apelos de Curiosidade que provocava incessantemente:
—
Olhe!
O desejo de olhar passou a ser bem maior
que o pacto firmado. Assim, mesmo às escondidas, começaram a dirigir o olhar
para outras coisas que não fossem eles mesmos. Começaram a comparar o mundo projetado
e estabelecido por eles com aquele inusitado mundo novo. O sinal de igualdade
se transformou em sinal de diferença. Tinha sempre um ser diferente para
desencadear dentro deles uma desconfortável comparação. Diante da mesma,
apareceu a Inferioridade que os atormentava dizendo:
—
Ele é melhor; você vale menos!
Vivendo este drama e um desgastante complexo de
inferioridade, surgiu, repentinamente, um casal que parecia se dar muito bem. O
nome deles era Ciúme e Inveja. Ciúme
dizia com convicção que aqueles seres que se amavam seriam os únicos capazes de
acolhê-lo em seu coração. Pregava também que seria sempre uma injustiça
qualquer um deles ser feliz sem que o outro pudesse estar por perto para
compartilhar esta felicidade. Diante disto, estabeleceram mais um pacto
impedindo que a Felicidade pudesse visita-los sem que o outro também estivesse
presente para recebê-la. E a Inveja, parceira do Ciúme, sempre colaborava com o
mesmo tratando de depreciar e desejar o mal a todos aqueles que tinham tido a
aparente sorte de estar mais feliz do que eles. Acompanhados por estes dois
parceiros inseparáveis, começaram a sentir um novo prazer na vida – “contemplar a infelicidade do outro”. Diante deste novo prazer, surgiu um censor
chamado Culpa que os advertia severamente:
—
Cuidado com o inferno!
O mundo pareceu, repentinamente, ter virado de cabeça
para baixo. Por mais esforços que fizessem, não conseguiam mais vivenciar a
plenitude do passado e do tão sonhado paraíso. Acompanhados pela Culpa se
sentiam mal e não sabiam como afasta-la. Ela se tornava cada vez mais forte,
principalmente quando tentavam explorar terrenos proibidos, contrários ao pacto
proposto. Seduzidos pela Curiosidade e conscientes de que estavam quebrando o
pacto estabelecido, começaram a pensar na possibilidade do parceiro estar
fazendo o mesmo. Numa tentativa de controlar a situação, resolveram firmar um
outro acordo ainda mais rígido e forte:
—
De hoje em diante não seremos apenas a parte que completa o outro, tornaremos
também a sua mais valiosa propriedade privada.
Ter um dono e ser ao mesmo tempo dono de alguém trazia
de volta a saudosa Ilusão que determinava enfaticamente:
—
Aquilo que é nosso ninguém toma e ninguém tem direito de se apropriar!
Ilusão
era maravilhosa! Chegava sempre no momento certo com uma solução mágica que
afastava as dores e inseguranças. Tinha sempre um discurso perfeito, sabia como
ninguém transformar pau em pedra. Estavam salvos, não perderiam mais aquela
parte perdida no passado e reencontrada com tanta dificuldade. O controle
passou a ser a maior arma que possuíam. Queriam saber de tudo que se passava na
vida do outro, não por interesse, mas por mera fiscalização. Dizer,
obsessivamente, para si mesmo — “Ele é meu e eu sou dele” — ajudava a manter o
controle da situação. No entanto, viver assim trouxe uma visita indesejável
chamada Estresse. Não há ninguém que consiga se manter relaxado tendo que
controlar o tempo todo uma situação que parece não ter controle. Inicialmente,
até suportavam bem o tal do Estresse, pois no fundo era por uma boa causa. A
maior demanda era o controle. Sem perceberem, o Estresse foi lhes minando todas
as energias e lhes causando um novo problema. Já não sentiam tanto prazer em
ficar junto ao outro. Nada parecia ter muita graça. O encanto foi substituído
pelo enfado. Tornaram-se cansados de si, cansados do outro e da própria vida.
Apesar do incômodo desta nova sensação, não deixavam de repisar para si mesmo:
—
O Amor vai nos salvar novamente e repelir todas as nossas dores.
No entanto, o amor parecia ter lhes
abandonado. Antes tivera a capacidade de
abrandar todas as dores incutindo em cada um a sensação de plenitude; agora já não fazia isto mais. Onde estaria o amor?
Antes que pudessem pensar, definitivamente, que o mesmo os tivesse desamparado,
Ilusão apareceu com um discurso novo que os confortou novamente:
—
O Amor suporta tudo, até mesmo as piores dores. Continuem vivendo as dores do
controle e se manterão unidos para sempre.
Seguiam os conselhos de Ilusão, mas chegava sempre o
momento que este discurso parecia ficar vago e impreciso. Foi num momento
destes que conheceram um novo ser chamado Dúvida. Dúvida não esclarecia nada,
apenas fazia perguntas e mais perguntas. Quase enlouqueceram diante de tantas
indagações. Eram perguntas sem respostas; respostas que geravam novas
perguntas. Perderam-se no meio de tantas divagações. Queriam soluções e não a
companhia de seres parecidos com a Dúvida que só traziam insatisfações. Um
deles era a Incerteza que parecia um gramofone repetindo sempre:
—
Será?
Com tanto “será” começaram a se perguntar:
—
Será que conseguiremos viver assim para sempre?
Chegaram à conclusão que seria
insuportável levar uma vida assim. Deveriam criar soluções e novas estratégias
de combate. A vida parecia uma guerra, não seria justo serem combatidos e
perder tudo que haviam conquistado. Perder equivaleria a se tornar um conjunto
vazio e incompleto. Precisavam adicionar à vida algo novo, mas não sabiam ainda
o quê. O desejo ardente de encontrar, rapidamente, uma solução fez com que se
deparassem com uma tal de Ansiedade que proferia sempre com muita pressa uma
única palavra:
—
Rápido!
Ordenados por Ansiedade, iniciaram uma
corrida em alta velocidade pelas estradas da Vida. Nesta correria não prestavam
atenção em nada. Tudo passava como um flash e com a intocável superficialidade.
Aprofundar era perda de tempo. Sabiam que não podiam perder nada, nem, tampouco,
o precioso tempo. Queriam segurá-lo, mas o tempo não parava. Sentindo
incapacitados para lidar com o tempo presente criaram uma ocupação nova com a
ajuda de uma nova especialista chamada Preocupação. Ocupar-se apenas do futuro,
talvez enganasse a chata Frustração que tentava lhes assolar no presente. Fixar
no pensamento e deixar de agir tornou-se a mais nobre dedicação. De posse de
bons pensamentos conseguiam criar um futuro razoável e a posse de pensamentos
negativos gerava um futuro nocivo. Era difícil manter o controle dos
pensamentos, mas já estavam acostumados a controlar. Apesar das dificuldades e
com excessivo esforço conseguiam aprisionar os maus pensamentos no porão da
mente. Frequentemente, tinham que enfrentar a rebelião dos mesmos, mas já
estavam se acostumando com rebeliões e guerras, pois a vida tinha se tornado um
grande combate. Sempre atentos a possíveis combates, adotaram uma postura
defensiva permanente que gerou uma paranoia
mútua. Tudo começou a ser percebido como uma ameaça e, sem se darem conta,
começaram a se sentir ameaçados um pelo outro. Diante de tantas fantasias
ameaçadoras, iniciaram também maciços ataques contra aquele ser que era,
anteriormente, o seu mais valioso tesouro. Encontraram através desta conduta
bélica um aliado que dizia sempre ser a mais forte arma para vencer uma guerra.
Este aliado se chamava Raiva e tinha uma força tão grande quanto o suposto Amor
que julgavam ter conhecido um dia. Raiva enfatizava colérica:
—
Se não quiseres perder é necessário vencer o outro com uma cara bem feia,
ameaças, manipulações e punições constantes. As pessoas temem estas armas e
recuam. Briguem por tudo que desejam!
Para não perder a parte conquistada,
passaram a adotar a estratégia da Raiva.
Perceberam que era um bom mecanismo de controle. Brigar passou a ser uma
forma de comunhão. Aprenderam a comungar discórdias e desavenças. Conseguiam se
manter juntos, mas começaram a ter uma sensação de estarem cada vez mais
distantes. Viveram isto um bom tempo até que conheceram a Indiferença que, de
certa forma, trouxe um certo alívio para tantos conflitos, pressões e
controles. Indiferença falava com um ar desanimado:
—
Não se ligue nisto! A grande solução na vida é não ligar para mais nada.
Restava agora seguir os conselhos de
Indiferença na esperança de afastar o sofrimento. De fato, deixaram de sofrer,
mas se tornaram seres completamente embotados. Não sentiam mais nada, nem
desejos e nem mesmo a tão temida e insuportável frustração. Diante deste novo
contexto, a Ilusão reapareceu, os abraçou para o resto de seus dias emitindo um
constante murmúrio:
—
Agora, vocês encontraram finalmente o paraíso. Nesta total ausência de dor não
há mais nada o que buscar. Eis a plenitude que tanto desejaram!
O conjunto unitário se transformou
em conjunto vazio dando fim à trágica história de duas vidas completamente diferentes
que se julgavam uma só; de dois seres inteiros que se julgavam uma fração,
principalmente, uma fração do outro.
Em algum lugar, um conselho
formado por seres muito sábios que não tiveram lugar nesta história, mas que
tentaram avaliar esta trágica opção de
vida comentavam entre si:
—
Por que será que eles não quiseram a minha companhia? Perguntou o Amor.
—
Em corações partidos não há espaço para você que só cabe em corações que mesmo
machucados e doloridos conseguem se manter inteiros. Respondeu a Felicidade.
—
Com isso você também não pôde se manifestar na vida deles. O máximo que
conseguiram foi confundir a alegria com você, assim como confundiram a
astuciosa paixão comigo. Ponderou o Amor.
—
Foram tantas as guerras e os combates para preservar o que na verdade nunca
conquistaram que nunca consegui me aproximar deles. Lamentou a Paz
—
Tudo isso porque se apegaram a tudo que não deveriam se apegar nesta vida.
Continuou o Desapego.
—
A quê? Perguntaram todos numa só voz.
Sabedoria como presidente deste conselho concluiu:
—
Não devemos nos apegar a uma única ideia nesta vida, principalmente quando ela
nos limita. Na matemática, 1 é igual a 1 (1=1), mas na relativa matemática da
vida 1 será sempre diferente de 1. Não há nenhum ser igual ao outro. Esta mesma
exata ciência nos diz que meio mais meio é igual a um (1/2 + ½ = 1). No
entanto, a ciência inexata da Vida afirma que a união de duas metades sempre
gera duas metades, ou seja, duas meias pessoas. Pensar que poderemos concluir
alguma coisa ou nos completar é uma maneira limitada de enxergar a vida.
Estamos completamente engajados no infinito. O máximo que conseguiremos é
eternamente acrescentar algo ao nosso ser ilimitado. A parte que nos completa é
o próprio universo. Se somos parte de alguma coisa, somos parte dele. Como ele
é infinito, infinitas serão as nossas possibilidades. Acho que o maior dilema
do ser humano é na verdade a maior benção que recebeu.
—
Qual? Perguntaram novamente.
—
Ter sido incluído no conjunto infinito cuja regra básica é o constante
crescimento.
Terminada a reunião, cada um seguiu o seu caminho
procurando uma alma que pudesse lhes acolher.