domingo, 3 de fevereiro de 2019

LOLO - O GATINHO INFLEXÍVEL


Era uma vez um gatinho muito simpático e bonito chamado Lolo. Todos gostavam muito dele. Ele tinha muitos amigos e vivia muito feliz até que algo começou a mudar dentro dele. O mundo aqui do lado de fora continuava lindo, mas o mundo dentro de Lolo foi ficando diferente quando ele se deixou ser dominado por um defeito muito sério. Lolo tinha todas as qualidades, menos uma. Ele não era flexível. Você sabe o que é flexibilidade?  Imagine um elástico. Se a gente o estica, ele cresce e alcança um espaço muito maior do que o aparente tamanho dele. Ele pode parecer pequeno, mas na verdade é muito maior do que a gente pode ver. As pessoas flexíveis são assim, muito maiores do que parecem ser. Lolo não conseguia ser assim. Era inflexível demais. Tratava todos os assuntos e pessoas com rigidez. Você  sabe o que é rigidez? Imagine uma pedra. A pedra não estica como o elástico. Esta sempre empacada no mesmo lugar; é dura e pode até nos machucar. Imagine uma cama elástica daquelas boas pra saltar e pular. Você já pulou numa cama elástica?  Numa cama elástica a gente se eleva nas alturas. Ela nos joga para o alto. Numa pedra, a gente pode só contar com a força do nosso salto; não tem nada que possa nos elevar além do nosso impulso. Pessoas flexíveis conseguem se elevar muito mais do que pessoas rígidas. Lolo não sabia disto e ficava muito triste porque a sua rigidez não deixava ele sair do lugar.  Mas, que lugar era este que Lolo não conseguia sair? O lugar do Dono da Verdade. Lolo era muito inteligente, mas no meio de tanta inteligência, ele tinha uma grande ignorância também que era se achar mais inteligente que os demais. Você conhece alguém assim? Pessoas assim são muito pedantes. Você sabe o que significa ser ignorante e pedante? Ignorante é aquele que desconhece algum assunto, ou seja  não teve a oportunidade de conhecer ou  amadurecer o suficiente para compreender algumas questões específicas. E, pedante é aquele que se exibe e julga conhecer mais do que todos. Imagine uma pessoa ignorante e pedante ao mesmo tempo. Uma pessoa que não sabe certas coisas mas que julga saber mais que todo mundo. Ichi! Muita perigosa esta combinação da ignorância com o pedantismo.
Lolo, por achar que sabia mais, queria que todos concordasse com ele. Se alguém não concordasse com ele,  ficava muito bravo e toda simpatia que tinha se transformava em tirania. Sua expressão mudava completamente. Aquele gatinho tranquilo e sorridente se transformava, repentinamente, num gato irritado e mal humorado. E, assim começavam as brigas. Brigava com seus pais pois não queria  aceitar muitas coisas que eles pediam para ele. Só queria que seus pais fizessem as suas vontades.  E assim ele fazia com os amigos também. A combinação da ignorância com o pedantismo torna as pessoas  muito egocêntricas. Você sabe o que significa ser egocêntrico? Egocêntrico é aquele ser movido pela cegueira da sua ignorância e pelas exigências de seu pedantismo. O egocêntrico só consegue enxergar a si próprio. Não consegue ver e nem aceitar as necessidades e interesses de outras pessoas. Lolo foi ficando muito egocêntrico e quanto mais egocêntrico ficava mais infeliz ele se tornava, pois os outros gatinhos não queriam ter uma amigo assim, pois amigo é aquele que olha com amor e com interesse para a gente. Lolo só conseguia olhar para ele próprio e para os próprios interesses.
Esta história não termina aqui. Ela está acontecendo em algum lugar. Pode ser que ela esteja acontecendo dentro de você ou na vida de alguém que você conhece. Portanto, esta história pode ter o final que você decidir.  Você vai inventar um final para ela. Desenhe numa folha o final que você deseja inventar para esta história.
E, depois de desenhar e escrever  o seu final para esta história, leia abaixo dois possíveis finais dentre a infinidade de finais possíveis para uma mesma história que se torna outra completamente diferente à partir das escolhas que fazemos. Portanto, muito cuidado e zelo com as escolhas que faz na vida, pois elas podem alterar e escrever o seu destino.

1)      Primeiro final > Lolo era egocêntrico demais e não aceitava olhar para nada que não fosse ele mesmo. Ele passou a vida inteira imerso no redemoinho de girar em torno de si mesmo. Se tornou um gato muito infeliz, mas tem seres que preferem escolher a infelicidade por não acreditar na felicidade de um caminho diferente; não conseguem enxergar um caminho novo partindo deste ponto de infelicidade onde estão estacionados ou,  melhor dizendo, empacados. Tem gente que passa a vida toda estacionado em um mesmo lugar por não ter coragem e dar um passo diferente. Tudo é uma questão de escolhas e de coragem de fazer diferente. Lolo não tinha esta coragem. Não aceitava correr o risco de perder. Só queria ganhar. Não sabia que a vida é feita de perdas e conquistas. Para ganhar certas coisas precisamos aceitar perder outras. A sua ignorância não lhe permitia reconhecer as perdas as quais estava sujeito futuramente e que já  vivia intensamente no presente levando a vida sempre do mesmo jeito. Achava que para ser amigo de si mesmo precisaria deixar de ser amigo dos outros, pois não conseguia abrir mão de nada em prol de um outro ser. Assim, passou o resto da vida enxergando somente os seus desejos e as suas frustrações.  Quando não conseguia alguma coisa, achava que era vítima do mundo quando na verdade era vítima apenas de si mesmo. E, assim viveu infeliz para sempre... Como certas pessoas!

2)      Segundo final > Lolo começou a ter um desconforto muito grande! Este desconforto começou a lhe dar um recado importante: “Tem alguma coisa errada”! No início Lolo achou que esta coisa errada era com o outro. Achava que o outro pudesse estar fazendo alguma coisa que atrapalhasse a vida que idealizava para si mesmo. Brigava com todo mundo que pensava estar atrapalhando a sua vida e ficava exigindo dos outros regras de conduta que eram boas apenas para ele mesmo. Mas isto também não funcionou, pois o mundo não é feito apenas de seres idiotas. Da mesma forma funciona o mundo dos animais.  Tinha muito gato esperto e sábio para colocar limites para gatos como Lolo e que jamais aceitariam ser manipuladas pelos Lolos egocêntricos  do mundo. Lolo se incomodou muito com este tipo de animal, mas depois de muito tempo,  a trancos e barrancos,  Lolo percebeu que talvez pudesse ter alguma coisa errada acontecendo dentro dele mesmo.  Quando a gente abre o nosso coração, um pouquinho que seja, para entrar um pouco mais da luz da consciência e não somente a luz de nossos desejos, alguma coisa começa a mudar. E, foi isto que aconteceu com Lolo... Mesmo não concordando com uma nova visão de vida, resolveu, no mínimo, aceitar que pudessem coexistir  outras visões com a sua. Esta aceitação lhe rendeu uma descoberta muito importante chamada flexibilidade. Lolo percebeu que existia mais prazer na flexibilidade do presente no que na rigidez do passado.  Quanto mais prazer extraia desta flexibilidade, maior ficava a sua necessidade de flexibilizar. E foi assim que aprendeu a respeitar não só as suas vontades e pontos de vista como também as vontades e pontos de vistas dos outros animais. Ele aprendeu a não brigar mais e nem mesmo a fazer suas tão famosas birras do passado. Aprendeu a expor suas necessidades e seus pontos de vista ao invés de tentar impô-los. Quando alguém não entendia ou aceitava seus pontos de vista e satisfazia as suas necessidades podia até ficar chateado mas não brigava mais por conta disto. Compreendia que todos os seres são diferentes e possuem necessidades diferentes. Passou a ter profunda consciência do mundo ideal que existia na sua cabeça e do mundo real que existia fora e que todos os seres estão sujeitos a viver. Que cada um possa viver este mundo real da melhor forma que dá conta e entender que a melhor forma será sempre uma que se flexibilize para atender a todos dentro das possibilidades e recursos que existem  e não somente a um número restrito de seres que se julgam privilegiados ou donos de tudo e de todos. Lolo compreendeu que não era justo ser dono de ninguém e que já era bem complexo na sociedade onde vivia dar conta de ser dono de si mesmo.