Dedico esta história, baseada no ciclo dos 5 movimentos da
Medicina Tradicional Chinesa, ao comprometimento que devemos ter com todas as
energias que vibram dentro de nosso ser e na própria natureza para equalizar o
nosso equilíbrio.
Obs: a compreensão mais profunda desta história exige um conhecimento maior da teoria dos 5 Elementos
ou Movimentos da Medicina Tradicional Chinesa
A HISTÓRIAS DOS 5
MOVIMENTOS
Eis
que um FOGO sem direção
e comando
começou a queimar... Ardente e explosivo, portador de uma força cruel demarcada
por uma insensibilidade
rancorosa
se precipitava
a destruir, apressadamente,
tudo que se opusesse a seu caminho. Uma floresta inteira seria consumida pela
sua força. Árvores
de todas as idades clamavam pelo fim daquele incêndio, no entanto, alimentavam aquele
FOGO cujas
chamas se expandiam
devorando tudo ao redor e transformando em cinzas toda MADEIRA que encontrasse pelo
caminho. O cheiro de queimado intoxicava a todos. Todos os seres e elementos da natureza se
perguntavam: - O que aconteceu com aquele FOGO tão alegre,
amoroso
e cordial?
Perdeu o respeito,
a fraternidade e
a clemência
por todos! Sem consciência, educação e sabedoria zomba de nossa fragilidade com uma liderança
doentia.
Revoltadas
com o FOGO,
todas as árvores
cuja MADEIRA tivera a sorte de ser poupada de virar cinza pela
sua escandalosa força gritavam obcecadas e intoxicadas pela raiva:
- Queremos vingança,
queremos vingança!
Frondosa,
a árvore
mais velha dos arredores, percebendo que aquela revolta só aumentaria ainda mais
a fúria
do FOGO,
tratou de pensar
numa forma inteligente de apaziguar a força do mesmo e apagar o incêndio:
- Não será de forma impulsiva
e violenta que dominaremos a fúria do FOGO.
Não temos como dominá-lo, mas poderemos deixar de alimentar a sua raiva.
- Como assim?
Perguntou uma árvore
ainda bebê que nascera há pouco tempo, bem no auge da primavera.
- Estamos no verão e
o FOGO
está com sua força máxima. Precisamos ser humildes, jamais arrogantes. Se usarmos mais a
nossa razão
e a nossa força no planejamento, construção e
administração de estratégias inteligentes poderemos mudar
esta situação.
- Você poderia ser
mais clara?
Solicitou a árvore
bebê com os olhos
que denotavam muito carinho pela mestra árvore, senhora de todas.
- Vamos usar o nosso
poder!
- E que poder teremos
sobre o FOGO?
Você quer competir
com ele? Perguntou uma das árvores revoltadas
- De maneira alguma! Não usaremos um poder maquiavélico e
autoritário. Usaremos o Poder de nossa
mente.
- Poder da mente! Que teoria
é esta? Será que este refinamento todo
vai fazer a gente chegar a algum lugar?
- Com certeza!
Exercitaremos a nossa capacidade crescer, melhorar, aperfeiçoar e evoluir.
Nada de guerra!
Guerrear
é coisa de gente sem moderação, que não sabe buscar soluções inteligentes
e gerenciar os
próprios problemas.
- Como faremos isto?
Perguntaram todas as árvores esverdeando de esperança.
- Como já disse
anteriormente, precisamos ser humildes. Para isto, precisamos expandir
a nossa força buscando parcerias. Está escrito no cosmo – Nada melhor do que a generosidade
de uma mãe. Portanto, mãe ÁGUA poderá
nos ajudar a fazer o sol nascer novamente
dentro de nossos corações e colocar ordem na casa. Chega de desordem! Ela há de cooperar
conosco! Ela nos alimenta e nos faz ficar mais fortes. Precisamos desta força
para lidar de forma inteligente com a amargura que
dominou o coração do FOGO roubando a sua sabedoria.
- É verdade! Que tem
uma mãe forte e poderosa traz consigo o gene desta força. Confirmou a árvore bebê.
- Além de nos nutrir
com seus nutrientes e alimentar a nossa força, só a mãe ÀGUA terá como controlar e deter a fúria do FOGO. Exclamaram em concordância
todas as outras árvores.
- Depois que muitas de
vocês usaram a raiva como combustível que nutriu o ódio do FOGO,
nada melhor que a calma de nossa mãe para nos conceder a capacidade de sonhar com a paz novamente. Finalizou a MADEIRA
mestra.
Curvando-se
para um riacho que passava por perto e entrando em contato com toda a ÁGUA sempre presente no subsolo alimentando a raiz de cada árvore
daquela floresta, todas elas suplicaram:
- Mãe ÁGUA, nos salve!
Surpreendendo
a todos, mãe ÁGUA respondeu apavorada:
- Me sinto
profundamente enfraquecida, não
posso fazer nada por vocês; aliás, acho melhor desencoraja-los. Este FOGO todo me dá medo! Acho impossível apaga-lo!
- Como pode agir
assim? Onde foi parar a sua determinação
e força de vontade diante das
dificuldades da vida? Perguntou a árvore mestra.
- Morreu! Respondeu a ÁGUA sem rodeios e com uma frieza
e rudeza assustadora.
- Você não pode fazer
isto conosco! Precisamos muito de você! Imploraram todas as árvores.
Sem
vontade de ouvir cada pedido de
socorro, e sem a mínima vontade de
procurar uma saída criativa para
acabar ou no mínimo minimizar o incêndio, a Água retrucou :
- São vocês as grandes
causadoras deste problema. Vocês que agora reclamam e se veem consumidas por
este FOGO
avassalador deveriam ter pensado melhor antes de agirem
precipitadamente. Aliás, pensar é uma grande qualidade de todas vocês.
Mas, agir
de forma impulsiva
e movidas pela raiva, o grande defeito.
- E o que isto tem
haver com esta sua apatia?
- O excesso de raiva que as moveram roubou de mim grande parte de
minha energia. Todos o os seus excessos geraram grandes deficiências em mim.
Agora, não sou suficientemente forte para apagar este FOGO todo. Não consigo domina-lo.
Ele me domina e me causa um grande desespero.
Me sinto impotente e cansada. Não gostaria de alimenta-los
com meu pessimismo, mas acho
praticamente impossível encontrar dentro
de mim aquela maravilhosa força de regeneração
que sempre me possibilitou sobreviver
mesmo diante de inusitados desafios.
- Mãe ÁGUA, você é a nossa única salvação! Não seja inflexível.
Você tem visão! Quantas vezes você usou seus pressentimentos para nos salvar... Esta sua falta de desejo nos assusta. Por onde anda a sua
gentileza e a sua sensualidade? Use-as agora. Seduza o FOGO! Quem
sabe você consegue sensibiliza-lo e convence-lo
a baixar suas chamas.
Dispersa, ausente e carente de instinto
de sobrevivência a ÁGUA se limitou a dizer:
- Se virem! Eu não posso
fazer nada! Um filho que suga a mãe tira dela toda a sua força. E foi
exatamente isto que vocês fizeram comigo. Sugaram a minha força de vontade, a minha determinação,
a minha capacidade de sonhar e criar. Me sinto estéril para parir qualquer solução.
- Faltou em todos nós vigilância
para observar
com acuidade
as nossas próprias arestas. Focamos nos nossos defeitos e limitações. Mas,
não adianta chorar o leite derramado. Precisamos pesquisar e encontrar uma nova
solução. Realmente você se encontra frágil demais para dominar o FOGO. Mas, tenho uma outra ideia... E, se você fosse suficientemente nutrida por sua
mãe METAL? Voce poderia se purificar
e fortalecer. A força da mãe gera também
uma grande força no filho. O que acha? Sugeriu a árvore mestra.
Antes
que a ÁGUA pudesse oferecer qualquer
resposta, o METAL se pronunciou:
- Vejam o que vocês
fizeram à minha filha ÁGUA! Já chorei
demais a má sorte dela. Voces deviam ter pena da gente e nos deixar
em paz. Chega de tanta cobrança! Estou triste e deprimida. Sinto
todos os sentimentos que não gostaria de sentir. O melhor que podem
fazer é se afastar de nós.
Ainda
mais perplexas, num coro desafinado, todas as árvores perguntaram:
- Voce deseja
dissolver nosso vínculo de amizade? Não seja mesquinha deixando que esta
melancolia produza em você uma grande injustiça. Você está perdendo a
sua sensibilidade. Sabes muito bem que merecemos a sua bondade. Sempre foi fiel
e leal a todos nós. Seria uma grande irresponsabilidade você
deixar de conservar esta riqueza que, de certa forma, construímos juntos.
Como netas que admiram a avó, não aceitaremos esta postura hesitante recheada
de hipocrisia. Voce precisa nos ajudar, pois sua filha ÁGUA não tem
forças para isto.
- Lamento
muito! Eu também não tenho força para combater o FOGO. Estou sendo totalmente controlada
e consumida por ele que se expande mais e mais. Emocionalmente abalada,
não tenho condições de reagir. Por isso, não me cobrem nutrir a sua mãe se não tenho forças nem mesmo para respirar
e para me manter nutrida.
- Externe suas
emoções e se desapegue destes sentimentos ruins! Propuseram suas
netas tentando controlar qualquer resquício de ira que pudesse piorar ainda
mais a situação.
- Na
qualidade de avó, ando bem magoada com vocês. Sei que possuem uma facilidade
incrível para se ressentirem, mas
estou ansiosa
para lhes dizer algumas coisas. Sinto saudade de quando eu conseguia dominar
vocês. Ultimamente vocês é quem me dominam me deixando ressentida e confusa.
Como pode uma neta desafiar a avó? Onde já se viu? Dá nisto! Esse FOGO todo é
resultado do incontrolável desejo de poder de
todas vocês. Se vocês não quiseram receber tudo de bom que liberei e ofereci a vocês,
arquem com as consequências! Agora, decidi guardar tudo que tenho só para mim.
A solidão é a melhor solução! Pronunciou-se secamente o METAL.
- Não seja orgulhosa
e covarde! Voce possui uma missão e deve cumpri-la. Erramos sim, mas
estamos tentando reaver e corrigir nossos erros. Desprenda-se destas ideias
limitantes e nos ajude. Se multiplicarmos as nossas forças, por mais frágil que estivermos, poderemos crescer trabalhando
em conjunto e de forma harmoniosa. Cada
um deve ajudar o outro. A união faz a força. Unidas, poderemos controlar o FOGO.
- Para isto, acho que
deverei fazer uma verdadeira alquimia dentro e fora de mim. Refletiu o METAL.
-Mais difícil do que
esta alquimia, foi combater o nosso vício de guerrear e comandar. Mas, devagarinho
estamos conseguindo fazer isto. Estamos nos esforçando e voce precisa se
esforçar também. Salientou a árvore mestra.
Depois
de refletir por alguns minutos, o METAL pronunciou-se:
- Acho que chegou a
hora da colheita. Tentarei colher algum aprendizado nesta história toda.
Saber lidar com as perdas retirando delas alguma conquista vai me trazer
mais animação.
Lembrando
da neta e da tão poderosa TERRA, a árvore mestra salientou:
- Não podemos esquecer da minha neta TERRA.
Lembre-se que ela pode nutri-la e conceder-lhe algumas coisas
importantes.
- Isso se você não
atrapalhar! Saiba que se você não domina-la de forma positiva, ela há de se
esgotar também. Emendou o METAL.
- O que você quer
dizer com isto? Perguntaram várias árvores ao mesmo tempo.
Antes
que o METAL respondesse, a TERRA
se intrometeu na conversa, pois percebeu que seria a próxima convocada:
- Ele quis dizer que
existe o bom e o mau domínio a ser exercido sobre o outro. E, infelizmente,
dominadas pela ira,
pelo desejo de competir
e mandar,
vocês me dominaram de forma negativa tentando minar a minha força ao invés de
estimula-la, e, ao mesmo tempo, quiseram dominar quem deveria ser uma
autoridade sobre vocês. Tiraram a autoridade do METAL e consequentemente a sua
força. Sem força, o Metal não conseguiu nutrir a sua filha ÁGUA, mãe de todas
vocês.
- Como é que pode
acontecer uma coisa desta? Nossos erros geraram consequências desastrosas para
todos os lados. Manifestou a árvore bebê.
- No entanto, vocês estão
agora dispostas a adotar o bom senso promovendo
uma conciliação
e uma harmonia capaz de gerar uma mudança significativa em tudo
que vem acontecendo. Esta mudança de consciência em vocês já foi capaz de promover
mudanças significativas dentro de mim. Me sinto mais fortalecida e em condições
de me equilibrar
novamente. Ponderou a TERRA.
- Engraçado, este apoio que
você nos oferece, nos proporciona mais segurança e confiança. Automaticamente, já consigo me sentir mais revigorada e
determinada a ajudar. Interveio a ÁGUA
que até então invernou-se em si
mesma negando-se a colaborar.
- Com você mais forte,
seremos também nutridas pela sua força e poderemos, consequentemente, nutrir o FOGO com
atitudes mais positivas, portanto menos destrutivas. Completou a MADEIRA
mestra.
- Precisamos ser práticas
e nos concentrarmos
no aqui
agora. Precisamos parar de olhar para o passado. Isso só gera
depressão. E nem mesmo para o futuro imaginando o pior, pois uma atitude assim
só geraria preocupação
e ansiedade.
Saber compreender
as limitações de cada um, acolhendo com firmeza e consistência o que temos de
melhor para oferecer é o nosso grande desafio.
Encantados
com a ponderação
da TERRA,
e se sentindo, agora, regenerada e menos tímida diante das dificuldades, a ÁGUA perguntou:
- Apesar de me sentir
melhor com toda esta nossa mudança de perspectiva diante da vida, sinto que o FOGO
precisa mudar também. Caso contrário, eu serei, de certa forma, consumida,
gradativamente, por ele.
-Preciso que o FOGO
seja nutrido de amor
para que eu possa transforma-lo em solidariedade. E daí, completar-se um ciclo de
sentimentos positivos. Solicitou a TERRA. Dirigindo-se a ela o METAL completou:
- Fantástico! Nutrida
de solidariedade,
eu poderia transforma-la em solicitude.
- Solícito, sem
desejar sufocar e controlar nada e ninguém, eu poderia
transformar a sua solicitude em generosidade.
Continuou a ÁGUA.
- E, nutrida pela generosidade você teria como me nutrir.
Assim, eu teria a oportunidade de transformar sua generosidade em carinho. Finalizou a MADEIRA.
À
medida que falavam, as transformações iam acontecendo sem que nenhum elemento
se apercebesse . Diante deste movimento incessante, cada um deles começou a
sentir algo diferente. O calor ardente do FOGO se
transformou num calor ameno, gostoso de sentir.
A TERRA
começou finalmente a se sentir adequadamente nutrida por esta mãe FOGO até
pouco tempo atrás tão descompensada. Olhou nos olhos do FOGO e não enxergou o cinismo e o ódio outrora vivenciado. Conseguia ver afeto em
seus olhos. Mais do que isto, conseguia sentir seu afeto. E à medida que a TERRA
sentia este afeto,
esta onda boa de energia era repassada a todos os outros elementos. O FOGO que
até agora não falara nada, tratou fazer o seu comunicado. FOGO que não se comunica,
explode!
- Meu espírito
está renovado! Posso intuir que daqui para frente tudo vai ser
diferente. Me sinto entusiasmado! Tenho muita fé no nosso poder. Todos nós temos
um poder diferente. Nenhum poder é melhor ou pior do que o outro. Enquanto me
senti ameaçado, tratei de defender-me atacando vocês com minha fúria.
Mas, antes de atacar, me senti atacado. E, não recebendo da ÁGUA a energia necessária para
controlar-me, a minha fúria cresceu descontroladamente. Perdi o controle sobre
eu mesmo. Não consegui lançar mão do amor que tenho com tanta fartura.
Antes que a ÁGUA se justificasse, o FOGO
prosseguiu:
- Já entendi! Não
precisa se justificar! Voce não foi suficientemente nutrida pela mãe METAL
e nem recebeu a energia da TERRA para controlar a insegurança e o medo
que brotaram dentro de ti.
Diante da iniciativa
do METAL se justificar, o FOGO continuou discursando. Comunicar suas ideias era o que ele
sabia fazer de melhor:
- Não só eu, mas todos
nós já entendemos você também, METAL. Tentei te controlar da pior
maneira possível extinguindo a sua força. Como vocês bem disseram, todo
controle mal administrado só traz prejuízos. Te controlei usando a energia de
meu autoritarismo.
Não te deixei expressar e te conti . Contido e deprimido, como
poderia cortar a raiva da MADEIRA e controla-la com seus atributos mais
elevados?
Interrompendo
a fala do FOGO,
a MADEIRA
prosseguiu:
- Cheguei a me sentir culpada
com os sentimentos ruins que reinaram sobre meu ser. Ainda bem que não usei a culpa
para me bloquear, pois caso contrário as coisas estariam ainda pior. Quando o METAL tentou usar a culpa para me controlar, eu já estava
mais equilibrada em condições de usar a
minha racionalidade
para não deixar este sentimento me devorar.
- Por outro lado, enfraquecida,
te ofereci o pior alimento. Ao invés de te alimentar , te intoxiquei. Alimentei voce com
meu medo. Ele virou ira
dentro de ti. Sabemos que por detrás da ira há sempre um ser acuado e inseguro.
Completou a ÁGUA.
- Mas, não se sinta culpada!
Sei que o METAL deficiente deva
ter lhe fartado com este alimento tóxico. E, sabemos também, que a culpa
gera medo e insegurança.
Se quisermos fragilizar um ser é só faze-lo sentir-se culpado. Ponderou a MADEIRA.
- Já que não temos
mais dúvida
sobre o que aconteceu e compreendemos todo o processo que moveu os
nossos mais puros e tóxicos sentimentos podemos, finalmente, nos dedicar a viver com o amor, a sabedoria e a alegria
do FOGO;
com o desapego, o desprendimento e a pureza do METAL;
com a generosidade,
abundancia
e coragem
da MADEIRA;
com a minha responsabilidade,
espontaneidade
e presença;
e por fim, com a flexibilidade, com
a força dos sonhos e da vontade da ÁGUA.
Harmonizados,
o movimento da vida seguiu continuamente. O FOGO trazendo o verão, o METAL trazendo o Outono,
a ÁGUA trazendo o inverno, a MADEIRA trazendo a primavera
e a TERRA
sempre ali, trazendo sua presença para o equilíbrio de todas as estações.
Os desequilíbrios não deixaram de existir, mas os elementos aprenderam a gerar
desequilíbrios saudáveis que geram este
movimento que não cessa.