domingo, 25 de novembro de 2012

A HISTÓRIA DOS CINCO MOVIMENTOS



Dedico esta história, baseada no ciclo dos 5 movimentos da Medicina Tradicional Chinesa, ao comprometimento que devemos ter com todas as energias que vibram dentro de nosso ser e na própria natureza para equalizar o nosso equilíbrio.
Obs: a compreensão mais profunda desta história exige um  conhecimento maior da teoria dos 5 Elementos ou Movimentos da Medicina Tradicional Chinesa



A HISTÓRIAS DOS 5 MOVIMENTOS

                    
Eis que um FOGO sem direção e comando começou a queimar... Ardente e explosivo, portador de uma força cruel demarcada por uma insensibilidade rancorosa se precipitava a destruir, apressadamente, tudo que se opusesse a seu caminho. Uma floresta inteira seria consumida pela sua força. Árvores de todas as idades clamavam pelo fim daquele incêndio, no entanto, alimentavam aquele FOGO cujas chamas se expandiam devorando tudo ao redor e transformando em cinzas toda MADEIRA que encontrasse pelo caminho. O cheiro de queimado intoxicava a todos.  Todos os seres e elementos da natureza se perguntavam: - O que aconteceu com aquele  FOGO  tão alegre, amoroso e cordial? Perdeu o respeito, a fraternidade e a clemência por todos! Sem consciência, educação e sabedoria zomba de nossa fragilidade com uma liderança doentia.
Revoltadas com o FOGO, todas as árvores cuja MADEIRA  tivera a sorte de ser poupada de virar cinza pela sua escandalosa força  gritavam obcecadas e  intoxicadas pela  raiva:
- Queremos vingança, queremos vingança!
Frondosa, a árvore mais velha dos arredores, percebendo que aquela revolta só aumentaria ainda mais a fúria do FOGO, tratou de pensar numa forma inteligente de apaziguar a força do mesmo e apagar o incêndio:
- Não será de forma impulsiva e violenta que dominaremos a ria do FOGO. Não temos como dominá-lo, mas poderemos deixar de alimentar a sua raiva.
- Como assim? Perguntou uma árvore ainda bebê que nascera há pouco tempo, bem no auge da primavera.
- Estamos no verão e o FOGO está com sua força máxima. Precisamos ser humildes, jamais arrogantes. Se usarmos mais a nossa razão e a nossa força no planejamento, construção e administração de estratégias inteligentes poderemos mudar esta situação.
- Você poderia ser mais clara? Solicitou a árvore bebê com os olhos que denotavam muito carinho pela mestra árvore, senhora de todas.  
- Vamos usar o nosso poder!
- E que poder teremos sobre o FOGO? Você quer competir com ele?  Perguntou uma das árvores revoltadas
- De maneira alguma! Não usaremos um poder maquiavélico e autoritário. Usaremos o Poder de nossa mente.
- Poder da mente! Que teoria é esta?  Será que este refinamento todo vai fazer a gente chegar a algum lugar?
- Com certeza! Exercitaremos a nossa capacidade crescer, melhorar, aperfeiçoar e evoluir. Nada de guerra! Guerrear é coisa de gente sem moderação, que não sabe buscar soluções inteligentes e gerenciar os próprios problemas.
- Como faremos isto? Perguntaram todas as árvores esverdeando de esperança.
- Como já disse anteriormente, precisamos ser humildes. Para isto, precisamos expandir a nossa força buscando parcerias. Está escrito no cosmo – Nada melhor do que a generosidade de uma mãe. Portanto, mãe ÁGUA poderá nos ajudar a fazer o sol nascer novamente dentro de nossos corações e colocar ordem na casa. Chega de desordem! Ela há de cooperar conosco! Ela nos alimenta e nos faz ficar mais fortes. Precisamos desta força para lidar de forma inteligente  com a  amargura que dominou o  coração do FOGO roubando a sua sabedoria.
- É verdade! Que tem uma mãe forte e poderosa traz consigo o gene desta força. Confirmou a árvore bebê.
- Além de nos nutrir com seus nutrientes e alimentar a nossa força, só a mãe ÀGUA terá como controlar e deter a fúria do FOGO. Exclamaram em concordância todas as outras árvores.
- Depois que muitas de vocês usaram a raiva como combustível que nutriu o ódio do FOGO, nada melhor que  a calma de nossa mãe para nos conceder a capacidade de sonhar com a paz novamente. Finalizou a MADEIRA mestra.
Curvando-se para um riacho que passava por perto e entrando em contato com toda a ÁGUA sempre presente no subsolo alimentando a raiz de cada árvore daquela floresta, todas elas suplicaram:
- Mãe ÁGUA, nos salve!
Surpreendendo a todos, mãe ÁGUA respondeu apavorada:
- Me sinto profundamente enfraquecida, não posso fazer nada por vocês; aliás, acho melhor desencoraja-los. Este FOGO todo me dá medo! Acho impossível apaga-lo!
- Como pode agir assim? Onde foi parar a sua determinação e força de vontade diante das dificuldades da vida? Perguntou a árvore mestra.
- Morreu! Respondeu a ÁGUA sem rodeios e com uma frieza e rudeza assustadora.
- Você não pode fazer isto conosco! Precisamos muito de você! Imploraram todas as árvores.
Sem vontade de ouvir cada pedido de socorro, e sem a mínima vontade de procurar uma saída criativa para acabar ou no mínimo minimizar o incêndio, a Água retrucou :
- São vocês as grandes causadoras deste problema. Vocês que agora reclamam e se veem consumidas por este FOGO avassalador deveriam ter pensado melhor antes de agirem precipitadamente. Aliás, pensar é uma grande qualidade de todas vocês. Mas, agir de forma impulsiva e movidas pela raiva,  o grande defeito.
- E o que isto tem haver com esta sua apatia?
- O excesso de raiva que as moveram roubou de mim grande parte de minha energia. Todos o os seus excessos geraram grandes deficiências em mim. Agora, não sou suficientemente forte para apagar este FOGO todo. Não consigo domina-lo. Ele me domina e me causa um grande desespero. Me sinto impotente e cansada. Não gostaria de alimenta-los com meu pessimismo, mas acho praticamente impossível  encontrar dentro de mim aquela maravilhosa força de regeneração que sempre me possibilitou sobreviver mesmo diante de inusitados desafios.
- Mãe ÁGUA, você é a nossa única salvação!  Não seja inflexível. Você  tem visão! Quantas vezes você usou seus pressentimentos para nos salvar... Esta sua falta de desejo nos assusta. Por onde anda a sua gentileza e a sua sensualidade? Use-as agora. Seduza o FOGO! Quem sabe você consegue sensibiliza-lo e convence-lo a baixar suas chamas.
Dispersa, ausente e carente de instinto de sobrevivência a ÁGUA se limitou a dizer:
- Se virem! Eu não posso fazer nada! Um filho que suga a mãe tira dela toda a sua força. E foi exatamente isto que vocês fizeram comigo. Sugaram a minha força de vontade, a minha determinação, a minha capacidade de sonhar e criar. Me sinto estéril para parir qualquer solução.
- Faltou em todos nós vigilância para observar com acuidade as nossas próprias arestas. Focamos nos nossos defeitos e limitações. Mas, não adianta chorar o leite derramado. Precisamos pesquisar e encontrar uma nova solução.  Realmente você se encontra frágil demais para dominar o FOGO. Mas, tenho uma outra ideia... E,  se você fosse suficientemente nutrida por sua mãe METAL? Voce poderia se purificar e fortalecer.  A força da mãe gera também uma grande força no filho. O que acha? Sugeriu a árvore mestra.
Antes que a ÁGUA pudesse oferecer qualquer resposta, o METAL se pronunciou:
- Vejam o que vocês fizeram à minha filha ÁGUA! Já chorei demais a má sorte dela. Voces deviam ter pena da gente e nos deixar em paz. Chega de tanta cobrança! Estou triste e deprimida. Sinto todos os sentimentos que não gostaria de sentir. O melhor que podem fazer é se afastar de nós.
Ainda mais perplexas, num coro desafinado, todas as árvores perguntaram:
- Voce deseja dissolver nosso vínculo de amizade? Não seja mesquinha deixando que esta melancolia produza em você uma grande injustiça. Você está perdendo a sua sensibilidade. Sabes muito bem que merecemos  a sua bondade. Sempre foi fiel e leal a todos nós. Seria uma grande irresponsabilidade você deixar de conservar esta riqueza que, de certa forma, construímos juntos. Como netas que admiram a avó, não aceitaremos esta postura hesitante recheada de hipocrisia. Voce precisa nos ajudar, pois sua filha ÁGUA não tem forças para isto.
- Lamento muito! Eu também não tenho força para combater o FOGO. Estou sendo totalmente controlada e consumida por ele que se expande mais e mais. Emocionalmente abalada, não tenho condições de reagir. Por isso, não me cobrem nutrir  a sua mãe se não tenho forças nem mesmo para respirar e para  me manter nutrida.
- Externe suas emoções e se desapegue destes sentimentos ruins! Propuseram suas netas tentando controlar qualquer resquício de ira que pudesse piorar ainda mais a situação.   
- Na qualidade de avó, ando bem magoada com vocês. Sei que possuem uma facilidade incrível para se ressentirem, mas estou ansiosa para lhes dizer algumas coisas. Sinto saudade de quando eu conseguia dominar vocês. Ultimamente vocês é quem me dominam me deixando ressentida e confusa. Como pode uma neta desafiar a avó? Onde já se viu? Dá nisto! Esse FOGO todo é resultado do incontrolável desejo de poder de todas vocês. Se vocês não quiseram receber tudo de bom que liberei e ofereci a vocês, arquem com as consequências! Agora, decidi guardar tudo que tenho só para mim. A solidão é a melhor solução! Pronunciou-se secamente o METAL.
- Não seja orgulhosa e covarde! Voce possui uma missão e deve cumpri-la. Erramos sim, mas estamos tentando reaver e corrigir nossos erros. Desprenda-se destas ideias limitantes e nos ajude. Se multiplicarmos as nossas forças, por mais frágil que estivermos, poderemos crescer trabalhando em conjunto e de forma harmoniosa.  Cada um deve ajudar o outro. A união faz a força. Unidas, poderemos controlar o FOGO.
- Para isto, acho que deverei fazer uma verdadeira alquimia dentro e fora de mim. Refletiu o METAL.
-Mais difícil do que esta alquimia, foi combater o nosso vício de guerrear e comandar. Mas, devagarinho estamos conseguindo fazer isto. Estamos nos esforçando e voce precisa se esforçar também.  Salientou a árvore mestra.
Depois de refletir por alguns minutos, o METAL pronunciou-se:
- Acho que chegou a hora da colheita. Tentarei colher algum aprendizado nesta história toda. Saber lidar com as perdas retirando delas alguma conquista vai me trazer mais animação.
Lembrando da neta e da tão poderosa TERRA, a árvore mestra salientou:
- Não podemos  esquecer da minha neta TERRA. Lembre-se que ela pode nutri-la e conceder-lhe algumas coisas importantes.
- Isso se você não atrapalhar! Saiba que se você não domina-la de forma positiva, ela há de se esgotar também. Emendou o METAL.
- O que você quer dizer com isto? Perguntaram várias árvores ao mesmo tempo.
Antes que o METAL  respondesse, a TERRA se intrometeu na conversa, pois percebeu que seria a próxima convocada:
- Ele quis dizer que existe o bom e o mau domínio a ser exercido sobre o outro. E, infelizmente, dominadas pela ira, pelo desejo de competir e mandar, vocês me dominaram de forma negativa tentando minar a minha força ao invés de estimula-la, e, ao mesmo tempo, quiseram dominar quem deveria ser uma autoridade sobre vocês. Tiraram a autoridade do METAL e consequentemente a sua força. Sem força, o Metal não conseguiu nutrir a sua filha ÁGUA, mãe de todas vocês.
- Como é que pode acontecer uma coisa desta? Nossos erros geraram consequências desastrosas para todos os lados. Manifestou a árvore bebê.
- No entanto, vocês estão agora dispostas a adotar o bom senso promovendo uma conciliação e uma harmonia capaz de gerar uma mudança significativa em tudo que vem acontecendo. Esta mudança de consciência em vocês já foi capaz de promover mudanças significativas dentro de mim. Me sinto mais fortalecida e em condições de me equilibrar novamente. Ponderou a TERRA.
- Engraçado, este apoio que você nos oferece, nos proporciona mais segurança e confiança. Automaticamente, já consigo me sentir mais revigorada e determinada a ajudar. Interveio a ÁGUA que até então invernou-se em si mesma negando-se a colaborar.
- Com você mais forte, seremos também nutridas pela sua força e poderemos, consequentemente, nutrir o FOGO com atitudes mais positivas, portanto menos destrutivas. Completou a MADEIRA mestra.
- Precisamos ser práticas e nos concentrarmos no aqui agora. Precisamos parar de olhar para o passado. Isso só gera depressão. E nem mesmo para o futuro imaginando o pior, pois uma atitude assim só geraria preocupação e ansiedade. Saber compreender as limitações de cada um, acolhendo com firmeza e consistência o que temos de melhor para oferecer é o nosso grande desafio.
Encantados com a ponderação da TERRA,  e se sentindo, agora, regenerada e menos tímida diante das dificuldades, a ÁGUA perguntou:
- Apesar de me sentir melhor com toda esta nossa mudança de perspectiva diante da vida, sinto que o FOGO precisa mudar também. Caso contrário, eu serei, de certa forma, consumida, gradativamente,  por ele.
-Preciso que o FOGO seja nutrido de amor para que eu possa transforma-lo em solidariedade. E daí, completar-se um ciclo de sentimentos positivos.  Solicitou a TERRA. Dirigindo-se a ela o METAL completou:
- Fantástico! Nutrida de solidariedade, eu poderia transforma-la em solicitude.
- Solícito, sem desejar sufocar e controlar nada e ninguém, eu poderia transformar a sua solicitude em generosidade. Continuou a ÁGUA.
- E, nutrida pela generosidade você teria como me nutrir. Assim, eu teria a oportunidade de transformar sua generosidade em carinho. Finalizou a MADEIRA.
À medida que falavam, as transformações iam acontecendo sem que nenhum elemento se apercebesse . Diante deste movimento incessante, cada um deles começou a sentir algo diferente. O calor ardente do FOGO se transformou num calor ameno, gostoso de sentir. A TERRA começou finalmente a se sentir adequadamente nutrida por esta mãe FOGO até pouco tempo atrás tão descompensada. Olhou nos olhos do FOGO e não enxergou o cinismo e o ódio outrora vivenciado. Conseguia ver afeto em seus olhos. Mais do que isto, conseguia sentir seu afeto. E à medida que a TERRA sentia este afeto, esta onda boa de energia era repassada a todos os outros elementos. O FOGO que até agora não falara nada, tratou fazer o seu comunicado. FOGO que não se comunica, explode!
- Meu espírito está renovado! Posso intuir que daqui para frente tudo vai ser diferente. Me sinto entusiasmado! Tenho muita no nosso poder. Todos nós temos um poder diferente. Nenhum poder é melhor ou pior do que o outro. Enquanto me senti ameaçado, tratei de defender-me atacando vocês com minha fúria. Mas, antes de atacar, me senti atacado. E, não recebendo da ÁGUA a energia necessária para controlar-me, a minha fúria cresceu descontroladamente. Perdi o controle sobre eu mesmo. Não consegui lançar mão do amor que tenho com tanta fartura.
Antes que a ÁGUA se justificasse, o FOGO prosseguiu:
- Já entendi! Não precisa se justificar! Voce não foi suficientemente nutrida pela mãe METAL e nem recebeu a energia da TERRA para controlar a insegurança e o medo que brotaram dentro de ti. 
Diante da iniciativa do METAL se justificar, o FOGO continuou discursando. Comunicar suas ideias era o que ele sabia fazer de melhor:
- Não só eu, mas todos nós já entendemos você também, METAL. Tentei te controlar da pior maneira possível extinguindo a sua força. Como vocês bem disseram, todo controle mal administrado só traz prejuízos. Te controlei usando a energia de meu autoritarismo. Não te deixei expressar e te conti . Contido e deprimido, como poderia cortar a raiva da MADEIRA e controla-la com seus atributos mais elevados?
Interrompendo a fala do FOGO, a MADEIRA prosseguiu:
- Cheguei a me sentir culpada com os sentimentos ruins que reinaram sobre meu ser. Ainda bem que não usei a culpa para me bloquear, pois caso contrário as coisas estariam ainda pior.  Quando o METAL tentou  usar a culpa para me controlar, eu já estava mais equilibrada em  condições de usar a minha racionalidade para não deixar este sentimento me devorar.
- Por outro lado, enfraquecida, te ofereci o pior alimento. Ao invés de te alimentar , te intoxiquei. Alimentei voce com meu medo. Ele virou ira dentro de ti. Sabemos que por detrás da ira há sempre um ser acuado e inseguro. Completou a ÁGUA.
- Mas, não se sinta culpada! Sei que o METAL  deficiente deva ter lhe fartado com este alimento tóxico. E, sabemos também, que a culpa gera medo e insegurança. Se quisermos fragilizar um ser é só faze-lo sentir-se culpado.  Ponderou a MADEIRA.
- Já que não temos mais dúvida sobre o que aconteceu e compreendemos todo o processo que moveu os nossos mais puros e tóxicos sentimentos podemos, finalmente,  nos dedicar a viver com o amor,  a sabedoria e  a alegria do FOGO; com o desapego, o desprendimento e a pureza do METAL; com a generosidade, abundancia e coragem da MADEIRA; com a minha responsabilidade, espontaneidade e presença; e por fim, com a flexibilidade, com a força dos sonhos e da vontade da ÁGUA.
Harmonizados, o movimento da vida seguiu continuamente. O FOGO trazendo o verão, o METAL trazendo o Outono, a ÁGUA trazendo o inverno, a MADEIRA trazendo a primavera e a TERRA sempre ali, trazendo sua presença para o equilíbrio de todas as estações. Os desequilíbrios não deixaram de existir, mas os elementos aprenderam a gerar desequilíbrios saudáveis que geram  este movimento que não cessa.

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