quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

GATO GRATO

Dedico esta história à toda riqueza que nos cerca, mas que nem sempre nos damos conta dela

            Era uma vez uma família de gatos brancos  como neve, pêlo fofo como algodão e olhos azuis como o céu em dia ensolarado.  Mamãe e papai gato davam muito amor e carinho aos  seus dois filhotes  Jujuba e Solé  e,  por sua vez, recebiam também muito amor deles. Uma das coisas que esta família mais gostava de fazer era passear na casa da vovó Mundica e do vovô Tomé. Todos os dias, no final da tarde, davam um jeitinho de dar uma passada por lá, nem que fosse só para fazer um lanchinho bem gostoso. Vovó Mundica fazia guloseimas maravilhosas para seus netinhos, mas o que eles gostavam mais de fazer era brincar com seu primo Zeca que morava na casa da vovó e do vovô.  Para Solé e Jujuba, a casa da mamãe e do papai era um lugar gostoso mas cheio de regras. Mamãe e papai eram carinhosos, mas muitas vezes bravos e exigentes com os deveres que eles deveriam cumprir. Na casa da vovó, por outro lado, muitas regras podiam ser burladas e por conta disto, eles se divertiam ainda mais fazendo sempre muitas artes que em casa nem sempre seriam permitidas. Não é que fossem também permitidas na casa da vovó, mas o fato é que ela tinha um coração mole e acabava não sendo tão firme como a mamãe e o papai. A casa da vovó parecia um paraíso, assim,   Jujuba e Solé começaram a pensar que deveria ser muito bom morar lá. Gostariam muito de ter o que Zeca tinha e eles não: a presença da vovó  Mundica a maior parte do tempo com eles -  Por que o primo Zeca podia ter o privilégio de morar com a vovó e o vovô e eles não? Isto não era justo na cabecinha deles. Só que tem um detalhe nesta história que eu ainda não contei...
            Zeca era um gato também bem parecido com todos eles. Era branquinho, tinha o pêlo fofo como algodão e os olhos azuis como o céu. Só não tinha uma coisa que Jujuba e Solé tinham com fartura todos os dias: a presença da mamãe e do papai gato. A mamãe de Zeca foi chamada para uma missão muito importante e não pôde mais viver com seu filhote. O Deus dos gatos pediu que ela fosse morar lá no céu com ele para ajudá-lo numa missão misteriosa que ninguém consegue desvendar até que seja chamado também para ajudar. Como só ela foi chamada  naquele momento para ajudá-lo, Zeca teve que ficar  morando com os avós , pois o papai dele precisava trabalhar numa outra cidade muito distante e não podia cuidar do filho com tanta disponibilidade como a vovó Mundica e o vovô Tomé que já estavam aposentados e não precisavam trabalhar tanto. Vovó e vovô davam para Zeca muito carinho e não deixava faltar nada para o neto. De vez em quando, Zeca ia passear na casa do papai ou o papai ia vê-lo na casa da vovó. Zeca ficava com saudade da mamãe que não podia ver mais e até mesmo do papai que só podia ver de vez em quando, mas acabou se acostumando com esta vida, pois a vovó procurava suprir a falta que Zeca sentia dando muita atenção, amor e carinho para ele. Zeca se sentia diferente dos outros gatos que tinham uma casa com uma mãe e um pai. Isto o deixava triste, mas a tristeza logo passava quando o vovô Tomé com sua sabedoria explicava para o neto:
- Somos todos diferentes. Seja mais cedo ou mais tarde, ninguém vai ter a mesma vida. Haverá sempre um desafio diferente para cada gato enfrentar.  Cada um terá uma vida especial com coisas boas e ruins.   Não podemos ter tudo nesta vida. Precisamos aprender a não sofrer por aquilo que nos falta, mas agradecer e se contentar com tudo aquilo de bom que temos.
            Zeca entendia as explicações do vovô, mas de vez em quando se distraía e parecia se esquecer de tudo. Quando isto acontecia, começava a se comparar com os outros gatinhos, principalmente com seus primos Jujuba e Solé.  A comparação é uma coisa muito perigosa; ela desperta dois sentimentos muito ruins: o ciúme e a inveja. Eles trazem um sofrimento muito grande para quem se deixa ser dominado por eles; ora a pessoa fica muito triste, ora fica com muita raiva. Foi assim que o ciúme e a inveja entraram nesta história.  Zeca foi dominado por estes sentimentos ruins e passou a ter muita raiva dos primos que ele gostava tanto. Nem queria mais brincar com eles. Ele não achava justo eles terem o papai e a mamãe sempre ali disponível e ele não. No entanto,  vocês não sabem o pior desta história... Vocês podem achar que somente Zeca foi dominado pelo ciúme e pela inveja, mas não foi só isto que aconteceu.  Jujuba e Solé passaram também a brigar com Zeca. Eles não achavam justo Zeca poder morar no paraíso da casa da vovó e eles não. O ciúme e a inveja deixa avarento todo gatinho que eles dominam. A avareza é também um outro sentimento ruim que faz a gente não se contentar com nada, nem mesmo com as melhores coisas que a gente tem na vida. Passamos a querer tudo  e não damos conta de dividir nada com ninguém, ou a viver sem as coisas que o outro tem e a gente não. Dominado pela avareza,  passamos a querer coisas que  podemos muito bem viver sem elas. E, foi justamente isto que acabou acontecendo com os 3 gatinhos fofos desta história. Zeca, Jujuba e Solé caíram na armadilha do ciúme e da inveja e se tornaram gatos  avarentos. Estes sentimentos são tão ruins que acabam transformando quem por eles é dominado numa coisa muito feia. O pêlo antes macio dos três gatinhos passou a ficar áspero como uma esponja de aço. Antes eles acariciavam com a sua fofura; agora parecia que queriam ferir e machucar com a sua aspereza. Seus olhinhos azuis, antes parecido com a cor do céu ensolarado, se transformou num cinza triste. Seus olhares anunciavam sempre uma tempestade de sentimentos ruins.
            A mamãe e o papai de Jujuba e Solé ficaram  muito preocupados com os filhos e com o sobrinho que também amavam tanto. Não sabiam como libertá-los do ciúme e da inveja. Aqueles gatinhos felizes já não se sentiam felizes como antes;  se tornaram escravos de sentimentos muito ruins. A gente se torna escravo quando passa a ter um dono e deixa de ser dono da gente mesmo. E agora? O que fazer com 3 gatinhos tão lindos, mas com sentimentos tão feios dentro deles? O que fazer com 3 gatinhos que tinham tudo para serem felizes, mas só conseguiam sentir a tristeza e a raiva? Você tem alguma idéia para salvar Jujuba, Solé e Zeca?
            Se você não tiver nenhuma idéia, saiba que a vovó Mundica teve uma idéia muito boa para resolver este problema. Resolveu fazer uma armadilha que espantaria o ciúme e a inveja para sempre da vida de seus queridos netinhos. Ela sabia que estes sentimentos ruins detestam o perfume da gratidão. A vovó tinha um jardim onde ela tinham plantado uma variedade imensa de bons sentimentos, um deles a gratidão. Este jardim ficava no coração da vovó Mundica. Vovó abriu seu coração e de lá saiu o perfume da gratidão. Eta perfume poderoso! À medida que este delicioso aroma foi impregnando tudo ao redor, o ciúme, a inveja, a avareza, a raiva e a tristeza deram um jeito de sair correndo  para bem longe. Foi assim que vovó Mundica conseguiu  libertar seus netinhos.
            Você deve estar se perguntando como a vovó espalhou o perfume da gratidão. Ela fez isto ensinando seus netinhos a agradecer ao invés de reclamar. Todas as vezes que eles reclamavam,  ela fazia com que eles percebessem se ficavam tristes ou alegres. Eles foram percebendo que ficavam sempre tristes e com muita raiva. Todas as vezes que eles agradeciam, ela fazia o mesmo; e eles perceberam que  ficavam sempre alegres vibrando no sentimento de gratidão.  Além de ensinar a eles perceberem a presença dos sentimentos bons e ruins dentro deles, ela também contava histórias e cantava músicas que faziam Zeca, Solé e Jujuba espantar qualquer sentimento ruim. Uma das canções era mais ou menos assim:

Gato, gato, gato
Eu sou mais que gato
Eu sou grato
Grato, grato, grato
Eu sou mais que grato
Eu sou um gato grato
Eu sou grato pelo que tenho
E pelo que não tenho também
Eu sei que não posso ter tudo
Mas posso ser tudo de bom