domingo, 30 de dezembro de 2012

O GRÃOZINHO DE AREIA


 

DEDICO ESTA HISTÓRIA A TODO GRÃOZINHO DE AREIA QUE ÀS VEZES SE DEBATE COM A SUA CONDIÇÃO, MAS QUE BUSCA, LÁ NO FUNDO DO SEU SER, O NOBRE SENTIDO DE SÊ-LO.


O GRÃOZINHO DE AREIA


Era uma vez um grãozinho de areia chamado José. José andava muito insatisfeito consigo mesmo. Achava que a vida de grão de areia não valia à pena. Pensava que talvez valesse mais à pena ser uma estrela ou qualquer outra coisa que fosse grande, luminosa, forte e poderosa. Tinha vontade de deixar de ser um grão de areia, mas não sabia como deixar de sê-lo. Chegava a pensar que se talvez fosse levado ao vento, solitário, pudesse deixar de sê-lo, mas era sempre advertido  de que este seu desejo era impossível. E assim vivia em eterno conflito consigo mesmo.
José encontrava frequentemente ao seu redor muitos grãos de areia assim como ele, todos lamentando a sua lastimável condição de ser um simples grão. Um dia, porém, viu uma grãozinha sorrindo alegremente no meio de tanta lamentação. Surpreso, perguntou à mesma:
— O que faz de você um ser tão feliz?
— Viver é uma grande felicidade! Respondeu a grãozinha irradiando entusiasmo pela vida.
— Viver pode ser bom para uma estrela, mas para um grão de areia... É terrível ser um grão de areia. Lamentou José.
— Mas eu sou também um grão de areia e não me sinto infeliz na minha condição de sê-lo. Qual a diferença entre um grão e uma estrela? Perguntou a grãozinha.
— A estrela vive nas alturas, é grande e brilha. Nós vivemos aqui em baixo, podemos ser pisado por todos e, além do mais, somos minúsculos e opacos. Respondeu José cheio de insatisfação.
— Nossa, que jeito mais esquisito de enxergar a vida! Exclamou a grãozinha cheia de indignação.
— E por acaso há outra maneira de enxergar esta vida miserável? Perguntou José desafiando a grãozinha.
— Eu não sei se o meu jeito de enxergar é certo ou errado, só sei que é completamente diferente do seu.
Tentando ironiza-la José falou:
— Se o jeito que você se enxerga for bom, talvez você esteja cega.
A grãozinha, com toda delicadeza e humildade, falou com ternura:
   Talvez eu seja cega mesmo e com isto tenha adquirido a capacidade de enxergar diferente. Você enxerga usando a mágoa como instrumento. Eu utilizo o meu coração e dentro dele há muito amor, principalmente por mim.
— O amor faz a gente se enxergar diferente? Perguntou José.
— O amor faz a gente enxergar tudo belo! Esse seu jeito estranho de enxergar a vida me faz pensar que lhe falta amor.
— Você está querendo dizer que não existe amor na minha vida? Que petulância! Eu sei muito bem o que vem a ser o amor. Censurou José àquela grãozinha que parecia tê-lo desafiado naquele momento.
— Eu não estou querendo dizer que não existe amor na sua vida. Eu estou querendo dizer que lhe falta amor. Existir e faltar são duas coisas bem diferentes. É justamente por existir que você sabe o que é, e é por saber o que é que você se sente mal quando o amor lhe falta. Ponderou a grãozinha com sabedoria.
— E quanto de amor me falta? Perguntou o grãozinho curioso.
— Amor não se mede, amor se sente. Falta apenas você sentir amor por si mesmo. Explicou a grãozinha.
— Me diga como se faz isto, pois na verdade eu sempre passei a minha vida preocupado em sentir amor pelos outros e tentando comprovar o amor que os outros sentiam  por mim. Buscando a aprovação de todos acabei esquecendo de olhar para mim. Lamentou José.
— Você pode começar por aí, por lembrar-se mais de si mesmo.
— Isso não funciona! Eu passo o dia inteiro me lembrando desta coisa horrível que sou e a estrela que não consigo ser.
A grãozinha já estava quase perdendo a paciência com o jeito pobre e pequeno que aquele grão tinha de se perceber. Ela, grão como ele, não se via assim. Onde estava a diferença? Tentando ajudá-lo, resolveu persistir naquela conversa.
— Pare com este seu jeito de queixar-se da vida e de si mesmo! Enquanto você não corrigir este seu comportamento autodepreciativo, você não conseguirá se amar. Sem amar a si mesmo, tornará impossível amar a vida por mais bela que ela seja. Tente se conhecer melhor. Será que não percebe a importância de um grão de areia?
José foi ficando assustado com a firmeza da grãozinha. Limitou-se a ficar caladinho escutando a bronca de um ser que se dizia igual a ele, mas que parecia ao mesmo tempo ser tão diferente. Não conseguia encontrar uma razão sequer que pudesse justificar a importância de um grão de areia. Ela, por sua vez, continuava falando, tentando buscar, se necessário, no lugar mais longínquo do universo, uma razão para a sua existência.
— Eu me aceito porque sei que tudo tem uma razão de ser.  Se sou uma pequena grãozinha, é porque o  universo precisa muito de mim. Se o universo não precisasse de mim, eu não seria um grão, eu simplesmente não existiria. O universo precisa que eu seja um grão e não uma estrela, assim como você. O fato de sermos uma coisa e não outra, não aniquila o nosso valor. A quem foi dado o poder de atribuir valor a coisas? Perguntou a grãozinha desafiando José, que afirmou logo em seguida:
— Boa pergunta! Eu não saberia respondê-la.
— Pois eu sei! Este poder foi dado a todos nós. Valemos por aquilo que afirmamos ser, como tudo aquilo que nos rodeia. Eu não sou como você que não se atribui valor algum. Eu me sinto importante, pois fui inteligente o suficiente para criar uma razão que pudesse me transformar num ser significativo e indispensável neste universo. Ninguém neste mundo conseguiria aniquilar o meu valor, pois eu já o defini. Sou um grande tesouro!
José deu uma grande risada e falou com sarcasmo:
— Deixa de ser pedante! Por que você não consegue enxergar a realidade e se aceitar como um ser pequeno, opaco e cravado neste chão?
— Você é quem não consegue enxergar a realidade e se aceitar como é. O seu orgulho lhe deixa cego. Não sou eu quem estou lamentando a condição de ser um grão. Eu aceito a minha condição, você não. O fato de sermos pequenos não significa que não sejamos grandes. O fato de sermos opacos não significa que não tenhamos o nosso brilho. O fato de estarmos cravados no chão não significa que não estejamos nas alturas.
Sem entender aquilo que a grãozinha tinha acabado de falar, José enrugou atesta num sinal de reprovação. A sua expressão denotava grande insatisfação. Parecia desejar ser o universo e não o grão que o constituía. A grãozinha por sua vez permaneceu ali, feliz.  Uma das coisas que lhe dava imenso prazer era olhar para uma linda estrela abaixo da terra que sempre dirigia o seu olhar para cima admirando este gigantesco planeta. O brilho do olhar dela era tão intenso que a grãozinha conseguia adivinhar o que aquela estrela pensava. Com certeza ela dizia:
— Que planeta maravilhoso! De quantos grãos é feito a terra? Abençoados sejam todos eles ali juntinhos criando o chão que abriga tantas espécies, tanta riqueza e tanta beleza. Majestosa grã!
Esta história termina com o universo sussurrando no ouvido desta estrela:
— Daí não dá para você enxergar, mas habita este planeta um grão megalomaníaco, chamado homem, que não descobriu ainda o sentido e a consistência de ser um simples grão. Ao invés de se sentir parte, ele se sente o todo – O TODO PODEROSO. Com isso ele sofre. Sofre ao descobrir que não tem tanto poder quanto gostaria. Se não descobrir a parte importante que é, e principalmente a parte importante que cada espécie que habita este maravilhoso planeta representa, acabará transformando a majestosa grã em pó.














domingo, 25 de novembro de 2012

A HISTÓRIA DOS CINCO MOVIMENTOS



Dedico esta história, baseada no ciclo dos 5 movimentos da Medicina Tradicional Chinesa, ao comprometimento que devemos ter com todas as energias que vibram dentro de nosso ser e na própria natureza para equalizar o nosso equilíbrio.
Obs: a compreensão mais profunda desta história exige um  conhecimento maior da teoria dos 5 Elementos ou Movimentos da Medicina Tradicional Chinesa



A HISTÓRIAS DOS 5 MOVIMENTOS

                    
Eis que um FOGO sem direção e comando começou a queimar... Ardente e explosivo, portador de uma força cruel demarcada por uma insensibilidade rancorosa se precipitava a destruir, apressadamente, tudo que se opusesse a seu caminho. Uma floresta inteira seria consumida pela sua força. Árvores de todas as idades clamavam pelo fim daquele incêndio, no entanto, alimentavam aquele FOGO cujas chamas se expandiam devorando tudo ao redor e transformando em cinzas toda MADEIRA que encontrasse pelo caminho. O cheiro de queimado intoxicava a todos.  Todos os seres e elementos da natureza se perguntavam: - O que aconteceu com aquele  FOGO  tão alegre, amoroso e cordial? Perdeu o respeito, a fraternidade e a clemência por todos! Sem consciência, educação e sabedoria zomba de nossa fragilidade com uma liderança doentia.
Revoltadas com o FOGO, todas as árvores cuja MADEIRA  tivera a sorte de ser poupada de virar cinza pela sua escandalosa força  gritavam obcecadas e  intoxicadas pela  raiva:
- Queremos vingança, queremos vingança!
Frondosa, a árvore mais velha dos arredores, percebendo que aquela revolta só aumentaria ainda mais a fúria do FOGO, tratou de pensar numa forma inteligente de apaziguar a força do mesmo e apagar o incêndio:
- Não será de forma impulsiva e violenta que dominaremos a ria do FOGO. Não temos como dominá-lo, mas poderemos deixar de alimentar a sua raiva.
- Como assim? Perguntou uma árvore ainda bebê que nascera há pouco tempo, bem no auge da primavera.
- Estamos no verão e o FOGO está com sua força máxima. Precisamos ser humildes, jamais arrogantes. Se usarmos mais a nossa razão e a nossa força no planejamento, construção e administração de estratégias inteligentes poderemos mudar esta situação.
- Você poderia ser mais clara? Solicitou a árvore bebê com os olhos que denotavam muito carinho pela mestra árvore, senhora de todas.  
- Vamos usar o nosso poder!
- E que poder teremos sobre o FOGO? Você quer competir com ele?  Perguntou uma das árvores revoltadas
- De maneira alguma! Não usaremos um poder maquiavélico e autoritário. Usaremos o Poder de nossa mente.
- Poder da mente! Que teoria é esta?  Será que este refinamento todo vai fazer a gente chegar a algum lugar?
- Com certeza! Exercitaremos a nossa capacidade crescer, melhorar, aperfeiçoar e evoluir. Nada de guerra! Guerrear é coisa de gente sem moderação, que não sabe buscar soluções inteligentes e gerenciar os próprios problemas.
- Como faremos isto? Perguntaram todas as árvores esverdeando de esperança.
- Como já disse anteriormente, precisamos ser humildes. Para isto, precisamos expandir a nossa força buscando parcerias. Está escrito no cosmo – Nada melhor do que a generosidade de uma mãe. Portanto, mãe ÁGUA poderá nos ajudar a fazer o sol nascer novamente dentro de nossos corações e colocar ordem na casa. Chega de desordem! Ela há de cooperar conosco! Ela nos alimenta e nos faz ficar mais fortes. Precisamos desta força para lidar de forma inteligente  com a  amargura que dominou o  coração do FOGO roubando a sua sabedoria.
- É verdade! Que tem uma mãe forte e poderosa traz consigo o gene desta força. Confirmou a árvore bebê.
- Além de nos nutrir com seus nutrientes e alimentar a nossa força, só a mãe ÀGUA terá como controlar e deter a fúria do FOGO. Exclamaram em concordância todas as outras árvores.
- Depois que muitas de vocês usaram a raiva como combustível que nutriu o ódio do FOGO, nada melhor que  a calma de nossa mãe para nos conceder a capacidade de sonhar com a paz novamente. Finalizou a MADEIRA mestra.
Curvando-se para um riacho que passava por perto e entrando em contato com toda a ÁGUA sempre presente no subsolo alimentando a raiz de cada árvore daquela floresta, todas elas suplicaram:
- Mãe ÁGUA, nos salve!
Surpreendendo a todos, mãe ÁGUA respondeu apavorada:
- Me sinto profundamente enfraquecida, não posso fazer nada por vocês; aliás, acho melhor desencoraja-los. Este FOGO todo me dá medo! Acho impossível apaga-lo!
- Como pode agir assim? Onde foi parar a sua determinação e força de vontade diante das dificuldades da vida? Perguntou a árvore mestra.
- Morreu! Respondeu a ÁGUA sem rodeios e com uma frieza e rudeza assustadora.
- Você não pode fazer isto conosco! Precisamos muito de você! Imploraram todas as árvores.
Sem vontade de ouvir cada pedido de socorro, e sem a mínima vontade de procurar uma saída criativa para acabar ou no mínimo minimizar o incêndio, a Água retrucou :
- São vocês as grandes causadoras deste problema. Vocês que agora reclamam e se veem consumidas por este FOGO avassalador deveriam ter pensado melhor antes de agirem precipitadamente. Aliás, pensar é uma grande qualidade de todas vocês. Mas, agir de forma impulsiva e movidas pela raiva,  o grande defeito.
- E o que isto tem haver com esta sua apatia?
- O excesso de raiva que as moveram roubou de mim grande parte de minha energia. Todos o os seus excessos geraram grandes deficiências em mim. Agora, não sou suficientemente forte para apagar este FOGO todo. Não consigo domina-lo. Ele me domina e me causa um grande desespero. Me sinto impotente e cansada. Não gostaria de alimenta-los com meu pessimismo, mas acho praticamente impossível  encontrar dentro de mim aquela maravilhosa força de regeneração que sempre me possibilitou sobreviver mesmo diante de inusitados desafios.
- Mãe ÁGUA, você é a nossa única salvação!  Não seja inflexível. Você  tem visão! Quantas vezes você usou seus pressentimentos para nos salvar... Esta sua falta de desejo nos assusta. Por onde anda a sua gentileza e a sua sensualidade? Use-as agora. Seduza o FOGO! Quem sabe você consegue sensibiliza-lo e convence-lo a baixar suas chamas.
Dispersa, ausente e carente de instinto de sobrevivência a ÁGUA se limitou a dizer:
- Se virem! Eu não posso fazer nada! Um filho que suga a mãe tira dela toda a sua força. E foi exatamente isto que vocês fizeram comigo. Sugaram a minha força de vontade, a minha determinação, a minha capacidade de sonhar e criar. Me sinto estéril para parir qualquer solução.
- Faltou em todos nós vigilância para observar com acuidade as nossas próprias arestas. Focamos nos nossos defeitos e limitações. Mas, não adianta chorar o leite derramado. Precisamos pesquisar e encontrar uma nova solução.  Realmente você se encontra frágil demais para dominar o FOGO. Mas, tenho uma outra ideia... E,  se você fosse suficientemente nutrida por sua mãe METAL? Voce poderia se purificar e fortalecer.  A força da mãe gera também uma grande força no filho. O que acha? Sugeriu a árvore mestra.
Antes que a ÁGUA pudesse oferecer qualquer resposta, o METAL se pronunciou:
- Vejam o que vocês fizeram à minha filha ÁGUA! Já chorei demais a má sorte dela. Voces deviam ter pena da gente e nos deixar em paz. Chega de tanta cobrança! Estou triste e deprimida. Sinto todos os sentimentos que não gostaria de sentir. O melhor que podem fazer é se afastar de nós.
Ainda mais perplexas, num coro desafinado, todas as árvores perguntaram:
- Voce deseja dissolver nosso vínculo de amizade? Não seja mesquinha deixando que esta melancolia produza em você uma grande injustiça. Você está perdendo a sua sensibilidade. Sabes muito bem que merecemos  a sua bondade. Sempre foi fiel e leal a todos nós. Seria uma grande irresponsabilidade você deixar de conservar esta riqueza que, de certa forma, construímos juntos. Como netas que admiram a avó, não aceitaremos esta postura hesitante recheada de hipocrisia. Voce precisa nos ajudar, pois sua filha ÁGUA não tem forças para isto.
- Lamento muito! Eu também não tenho força para combater o FOGO. Estou sendo totalmente controlada e consumida por ele que se expande mais e mais. Emocionalmente abalada, não tenho condições de reagir. Por isso, não me cobrem nutrir  a sua mãe se não tenho forças nem mesmo para respirar e para  me manter nutrida.
- Externe suas emoções e se desapegue destes sentimentos ruins! Propuseram suas netas tentando controlar qualquer resquício de ira que pudesse piorar ainda mais a situação.   
- Na qualidade de avó, ando bem magoada com vocês. Sei que possuem uma facilidade incrível para se ressentirem, mas estou ansiosa para lhes dizer algumas coisas. Sinto saudade de quando eu conseguia dominar vocês. Ultimamente vocês é quem me dominam me deixando ressentida e confusa. Como pode uma neta desafiar a avó? Onde já se viu? Dá nisto! Esse FOGO todo é resultado do incontrolável desejo de poder de todas vocês. Se vocês não quiseram receber tudo de bom que liberei e ofereci a vocês, arquem com as consequências! Agora, decidi guardar tudo que tenho só para mim. A solidão é a melhor solução! Pronunciou-se secamente o METAL.
- Não seja orgulhosa e covarde! Voce possui uma missão e deve cumpri-la. Erramos sim, mas estamos tentando reaver e corrigir nossos erros. Desprenda-se destas ideias limitantes e nos ajude. Se multiplicarmos as nossas forças, por mais frágil que estivermos, poderemos crescer trabalhando em conjunto e de forma harmoniosa.  Cada um deve ajudar o outro. A união faz a força. Unidas, poderemos controlar o FOGO.
- Para isto, acho que deverei fazer uma verdadeira alquimia dentro e fora de mim. Refletiu o METAL.
-Mais difícil do que esta alquimia, foi combater o nosso vício de guerrear e comandar. Mas, devagarinho estamos conseguindo fazer isto. Estamos nos esforçando e voce precisa se esforçar também.  Salientou a árvore mestra.
Depois de refletir por alguns minutos, o METAL pronunciou-se:
- Acho que chegou a hora da colheita. Tentarei colher algum aprendizado nesta história toda. Saber lidar com as perdas retirando delas alguma conquista vai me trazer mais animação.
Lembrando da neta e da tão poderosa TERRA, a árvore mestra salientou:
- Não podemos  esquecer da minha neta TERRA. Lembre-se que ela pode nutri-la e conceder-lhe algumas coisas importantes.
- Isso se você não atrapalhar! Saiba que se você não domina-la de forma positiva, ela há de se esgotar também. Emendou o METAL.
- O que você quer dizer com isto? Perguntaram várias árvores ao mesmo tempo.
Antes que o METAL  respondesse, a TERRA se intrometeu na conversa, pois percebeu que seria a próxima convocada:
- Ele quis dizer que existe o bom e o mau domínio a ser exercido sobre o outro. E, infelizmente, dominadas pela ira, pelo desejo de competir e mandar, vocês me dominaram de forma negativa tentando minar a minha força ao invés de estimula-la, e, ao mesmo tempo, quiseram dominar quem deveria ser uma autoridade sobre vocês. Tiraram a autoridade do METAL e consequentemente a sua força. Sem força, o Metal não conseguiu nutrir a sua filha ÁGUA, mãe de todas vocês.
- Como é que pode acontecer uma coisa desta? Nossos erros geraram consequências desastrosas para todos os lados. Manifestou a árvore bebê.
- No entanto, vocês estão agora dispostas a adotar o bom senso promovendo uma conciliação e uma harmonia capaz de gerar uma mudança significativa em tudo que vem acontecendo. Esta mudança de consciência em vocês já foi capaz de promover mudanças significativas dentro de mim. Me sinto mais fortalecida e em condições de me equilibrar novamente. Ponderou a TERRA.
- Engraçado, este apoio que você nos oferece, nos proporciona mais segurança e confiança. Automaticamente, já consigo me sentir mais revigorada e determinada a ajudar. Interveio a ÁGUA que até então invernou-se em si mesma negando-se a colaborar.
- Com você mais forte, seremos também nutridas pela sua força e poderemos, consequentemente, nutrir o FOGO com atitudes mais positivas, portanto menos destrutivas. Completou a MADEIRA mestra.
- Precisamos ser práticas e nos concentrarmos no aqui agora. Precisamos parar de olhar para o passado. Isso só gera depressão. E nem mesmo para o futuro imaginando o pior, pois uma atitude assim só geraria preocupação e ansiedade. Saber compreender as limitações de cada um, acolhendo com firmeza e consistência o que temos de melhor para oferecer é o nosso grande desafio.
Encantados com a ponderação da TERRA,  e se sentindo, agora, regenerada e menos tímida diante das dificuldades, a ÁGUA perguntou:
- Apesar de me sentir melhor com toda esta nossa mudança de perspectiva diante da vida, sinto que o FOGO precisa mudar também. Caso contrário, eu serei, de certa forma, consumida, gradativamente,  por ele.
-Preciso que o FOGO seja nutrido de amor para que eu possa transforma-lo em solidariedade. E daí, completar-se um ciclo de sentimentos positivos.  Solicitou a TERRA. Dirigindo-se a ela o METAL completou:
- Fantástico! Nutrida de solidariedade, eu poderia transforma-la em solicitude.
- Solícito, sem desejar sufocar e controlar nada e ninguém, eu poderia transformar a sua solicitude em generosidade. Continuou a ÁGUA.
- E, nutrida pela generosidade você teria como me nutrir. Assim, eu teria a oportunidade de transformar sua generosidade em carinho. Finalizou a MADEIRA.
À medida que falavam, as transformações iam acontecendo sem que nenhum elemento se apercebesse . Diante deste movimento incessante, cada um deles começou a sentir algo diferente. O calor ardente do FOGO se transformou num calor ameno, gostoso de sentir. A TERRA começou finalmente a se sentir adequadamente nutrida por esta mãe FOGO até pouco tempo atrás tão descompensada. Olhou nos olhos do FOGO e não enxergou o cinismo e o ódio outrora vivenciado. Conseguia ver afeto em seus olhos. Mais do que isto, conseguia sentir seu afeto. E à medida que a TERRA sentia este afeto, esta onda boa de energia era repassada a todos os outros elementos. O FOGO que até agora não falara nada, tratou fazer o seu comunicado. FOGO que não se comunica, explode!
- Meu espírito está renovado! Posso intuir que daqui para frente tudo vai ser diferente. Me sinto entusiasmado! Tenho muita no nosso poder. Todos nós temos um poder diferente. Nenhum poder é melhor ou pior do que o outro. Enquanto me senti ameaçado, tratei de defender-me atacando vocês com minha fúria. Mas, antes de atacar, me senti atacado. E, não recebendo da ÁGUA a energia necessária para controlar-me, a minha fúria cresceu descontroladamente. Perdi o controle sobre eu mesmo. Não consegui lançar mão do amor que tenho com tanta fartura.
Antes que a ÁGUA se justificasse, o FOGO prosseguiu:
- Já entendi! Não precisa se justificar! Voce não foi suficientemente nutrida pela mãe METAL e nem recebeu a energia da TERRA para controlar a insegurança e o medo que brotaram dentro de ti. 
Diante da iniciativa do METAL se justificar, o FOGO continuou discursando. Comunicar suas ideias era o que ele sabia fazer de melhor:
- Não só eu, mas todos nós já entendemos você também, METAL. Tentei te controlar da pior maneira possível extinguindo a sua força. Como vocês bem disseram, todo controle mal administrado só traz prejuízos. Te controlei usando a energia de meu autoritarismo. Não te deixei expressar e te conti . Contido e deprimido, como poderia cortar a raiva da MADEIRA e controla-la com seus atributos mais elevados?
Interrompendo a fala do FOGO, a MADEIRA prosseguiu:
- Cheguei a me sentir culpada com os sentimentos ruins que reinaram sobre meu ser. Ainda bem que não usei a culpa para me bloquear, pois caso contrário as coisas estariam ainda pior.  Quando o METAL tentou  usar a culpa para me controlar, eu já estava mais equilibrada em  condições de usar a minha racionalidade para não deixar este sentimento me devorar.
- Por outro lado, enfraquecida, te ofereci o pior alimento. Ao invés de te alimentar , te intoxiquei. Alimentei voce com meu medo. Ele virou ira dentro de ti. Sabemos que por detrás da ira há sempre um ser acuado e inseguro. Completou a ÁGUA.
- Mas, não se sinta culpada! Sei que o METAL  deficiente deva ter lhe fartado com este alimento tóxico. E, sabemos também, que a culpa gera medo e insegurança. Se quisermos fragilizar um ser é só faze-lo sentir-se culpado.  Ponderou a MADEIRA.
- Já que não temos mais dúvida sobre o que aconteceu e compreendemos todo o processo que moveu os nossos mais puros e tóxicos sentimentos podemos, finalmente,  nos dedicar a viver com o amor,  a sabedoria e  a alegria do FOGO; com o desapego, o desprendimento e a pureza do METAL; com a generosidade, abundancia e coragem da MADEIRA; com a minha responsabilidade, espontaneidade e presença; e por fim, com a flexibilidade, com a força dos sonhos e da vontade da ÁGUA.
Harmonizados, o movimento da vida seguiu continuamente. O FOGO trazendo o verão, o METAL trazendo o Outono, a ÁGUA trazendo o inverno, a MADEIRA trazendo a primavera e a TERRA sempre ali, trazendo sua presença para o equilíbrio de todas as estações. Os desequilíbrios não deixaram de existir, mas os elementos aprenderam a gerar desequilíbrios saudáveis que geram  este movimento que não cessa.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

A ESTRELINHA QUE DESCOBRIU O MISTÉRIO DA VIDA E DA MORTE



Dedico esta história à todos aqueles que não descobriram ainda o mistério da vida e da morte




Era uma vez uma linda estrelinha que vivia feliz e irradiante em algum lugar muito distante do nosso infinito universo.  Sua luz era muito poderosa, capaz de ser vista a milhares de anos luz por seres que viviam em diversos mundos diferentes. Brilhava tanto que acabou recebendo o nome de Brilhante. Certo dia, querendo saber o porque recebeu este nome, resolveu conversar com uma das estrelas responsáveis por fazer o registro de sua identidade no universo. O nosso nome fala muito de nossa origem, de nossa essência e energia, portanto, descobrir e  conhecer um pouco  mais sobre si mesma era uma coisa que Brilhante adorava fazer. Aproximando-se de Poderosa, a estrela mais velha daqueles arredores, perguntou:

-Por que me chamo Brilhante?

-Eu poderia lhe dizer que é porque você é uma estrela  que brilha muito forte enviando luz  para muitos planetas, mas existe algo mais que me inspirou registra-la assim.

-Me conte, estou curiosa! Solicitou brilhante ofuscando os olhos de Poderosa com seu brilho intenso de curiosidade.

Poderosa, passando o olhar por todo o universo, focou seu olhar num planeta muito bonito – um planeta azul. Deu um sorriso sereno como se estivesse relembrando algum fato muito especial  e dirigiu-se atenciosamente pra Brilhante:

-Está vendo aquele Planeta alí?

- É claro! Acho ele tão lindo!

- Naquele planeta azul existe uma pedra muito bonita chamada Diamante. Esta pedra é tão brilhante que os seres de lá  a apelidaram de Brilhante. Além de sua beleza, raridade e valor, ela é muito utilizada para simbolizar as uniões amorosas de alguns seres que vivem lá.

- Mas, o que isto tem haver comigo?

-Além de sua beleza, você é uma energia rara e de muito valor para todo o universo. O universo guarda você da mesma forma que alguns seres que conseguem adquirir um Brilhante guardam a sua pedra no Planeta Azul.

- Como estes seres guardam o seu Brilhante? Perguntou a estrelinha.

- Com todo cuidado possível. Jamais deixam esta pedra rara jogada em qualquer lugar. E procuram usa-la nas ocasiões mais especiais.

-Quer dizer que o universo me guarda com todo cuidado. Poxa, me sinto lisonjeada!

- Mais do que isto. O universo esperou por longo tempo o momento especial para usa-la.

- Isto me assusta! Como posso ser usada?

-Não se assuste! Isto é só força de expressão. Na verdade o universo precisa muito da sua energia para melhorar e aprimorar algumas  coisas naquele lindo planeta azul. Esclareceu Poderosa.

-Como é que poderei ajudar o universo. Terei um grande prazer de ser útil.

- Nascendo no grande planeta azul. Respondeu a velha estrela .

- Nascendo? O que é isto e como se faz isto? Nunca ouvi esta palavra. Dá para me explicar melhor?

- É bem complicado explicar para você, pois aqui onde vivemos não existem certas palavrinhas que  trazem muito medo para alguns seres que vivem lá.

-Que palavrinhas? Interrompeu a estrelinha.

- Duas palavrinhas, principalmente. A palavra nascer e a palavra morrer.

- Epa! Outra palavra nova. O que é morrer?

- Nossa! Voce nem bem compreendeu o significado da palavra nascer e já quer saber o que é morrer?  Questionou Poderosa com ar de brincadeira.

- Voce me inventa estas palavras novas e quer que eu fique desinteressada? Sabes que sou muito curiosa. Adoro descobrir coisas novas.

- É justamente isto que você vai fazer lá no planeta Azul. Voce vai descobrir, e explicar para alguns seres que vivem lá,  o  mistério da vida e da morte.

-Já vem você com outras palavras – Vida e Morte. O que significa isto?

- No planeta Azul estas palavras tem um significado completamente diferente do significado que damos a elas aqui. Na verdade, nem utilizamos mais estas duas palavras, pois elas não fazem sentido de existirem separadas. Aqui, vida e morte é uma coisa só, bem como nascer  e morrer. No entanto, lá, as coisas  não são bem assim.

-Como assim? Dá para ser mais claro? Solicitou a estrelinha.

- Muitos seres que vivem no planeta Azul temem a palavrinha Morte. Acham que ela é uma coisa muito ruim.

- Mas, a morte é uma coisa ruim?

- De maneira alguma ! A morte é tão boa quanto a vida. Na verdade, ambas são uma coisa só. Os seres que lá vivem não sabem que a morte pode ser vida e que a vida pode ser morte em momentos diferentes. Tudo depende do contexto e da nossa forma de encarar as coisas.

-Ichi! Este assunto está muito complicado... Se nem eu estou entendendo, como é que você quer que eu explique isto tudo para os tais seres confusos daquele planeta? Acho que estou muito mais confusa que eles.

- É aí que você se engana. Voce já sabe tudo deste assunto, embora não saiba ainda que sabe. Esclareceu Poderosa tentando tranquiliza-la.

- Será que sei mesmo ou será que você está enganado? Questionou a estrelinha à grande estrela Poderosa que era para ela um grande mestre.

- Sabe de uma coisa... Chega de Bla bla bla! Chegou a hora de você nascer lá e fazer estas descobertas.

-Mas, se eu bem entendi, você me disse que nascer e morrer é uma coisa só. O que isto tem haver com esta minha nova experiência existencial?

- Para nascer lá deverá morrer aqui. E para nascer aqui, deverá morrer lá. Na verdade, voce já está cansada de saber disto. Existir é isto – uma sequência de nascimentos e mortes que não cessam jamais.

- Acho que estou começando a entender... Eu já existi em tantos lugares, de tantas maneiras e formas diferentes. São estas mudanças de lugares e formas de ser que os tais seres chamam de vida e morte? Perguntou a estrelinha querendo mais esclarecimentos antes de partir para mais uma nova forma de existir no universo.

- Vou deixar por sua conta responder esta pergunta. A sua forma de existir no planeta azul lhe dará esta resposta. Confie em mim. Só preciso saber qual a forma que você deseja ter lá.

- Como assim? Não entendi.

- O planeta Azul é muito rico em várias espécies de seres. Nenhum deles é melhor ou mais importante que o outro. Todos eles são indispensáveis à existência do planeta. Voce pode escolher ser que quiser.

-E, o que eu posso ser?

- Voce poder se árvore, animal, água, fogo, o ar, terra,  insetos, seres microscópicos que ninguém enxerga, uma pedra, um grão de areia, peixes, enfim uma série de seres. Pode ser também o tal ser confuso que não descobriu ainda o mistério da vida e da morte.

-Qual o nome deste ser? Perguntou ávida por uma resposta.

- O nome dele é Ser Humano. Respondeu Poderosa

- Não seria melhor eu escolher ser Ser Humano, já que tenho que explicar a eles o tal mistério da vida e da morte?

- Não, necessariamente... Todos os seres podem oferecer ao Ser Humano esta resposta. Basta que ele saia da confusão e aprenda a observar, olhar e escutar os sinais de todos os seres que habitam o planeta.

- Isto quer dizer que se eu for uma árvore, eu poderei contar a eles este mistério?

- Exatamente isto! O ser humano pode descobrir todo o mistério da vida e da morte observando e se relacionando de forma harmoniosa com uma árvore, com a chuva, com o fogo, com os animais, com  uma flor, com uma pedra, com uma bactéria, enfim com tudo. A resposta está em tudo e em todos os lugares.  Esclareceu Poderosa.

- Mas, se a resposta está em tudo e em todos os lugares, como é que o ser humano ainda não a descobriu?

-Ele não descobriu ainda porque precisa curar o seu olhar. Se voce soubesse como o ser humano anda agindo...Por exemplo: Quando ele olha para uma árvore, só pensa como vai explora-la. Se acha mais importante que ela. E, quando a gente se acha mais importante que alguma coisa, a gente não se abre para aprender com ela. Por isso, o Ser Humano tem tido tanta dificuldade de aprender.

- E, como a árvore pode ensinar os mistérios e o significado da vida e da morte. Perguntou Brilhante.

- Isto eu não vou te contar agora. Quando você chegar lá, a árvore te conta. Tenho certeza que vai ser mais emocionante aprender com ela.

- A árvore já te ensinou alguma coisa?

- É claro que sim! Não só ela, mas todos os seres que vivem lá.

- Voce já viveu lá?

- Muitas vezes! Como numa viagem que a gente vai e volta. Uma viagem boa, né; já que a gente só quer voltar para os lugares que a gente gosta. Gostei tanto de lá que voltei a viver centenas de vezes neste planeta maravilhoso.

- E o que você escolheu ser lá?

- Eu já experimentei ser quase tudo. Já fui água de rio, já fui água de mar, fui fogo, peixe, pedra,  flor, árvore, diversos animais, já fui bactéria e ser humano também. Já fui tanta coisa que nem me lembro mais.

- E o que você mais gostou de ser?

- Cada vida, por mais diferente que seja da outra ou por mais rápida que seja é um valioso presente do universo.

-Rápida, como assim?

- Às vezes a gente vive apenas algumas horas, outras vezes meses, outras centenas ou milhares de anos. O tempo que a gente vai ficar lá depende da nossa proposta.

- Que proposta?

- Todos que partem para o Planeta Azul tem um propósito de vida em sintonia com o universo.

- Dá para explicar melhor?

Poderosa tentou se lembrar das várias vidas que teve para dar um exemplo que pudesse tirar as dúvidas de Brilhante:

- Quando eu fui Fogo, vivi apenas 12  horas. Minha proposta era aquecer uma família de seres humanos que vivia a milhares de anos atrás numa caverna. Fui muito feliz nestas doze horas porque levei felicidade para esta família. Os protegi do frio e de animais ferozes  e permiti que através de mim eles pudessem preparar um alimento para matar a fome. 

- Mas, porque você não ficou com esta família mais tempo. Eles gostaram de você e você deles...

- Eu até poderia, mas como lhe disse, a minha proposta junto com o Universo não era ficar mais tempo ali. Era poder me transformar e nascer num outro lugar. Assim, meu corpo Fogo se transformou num outro corpo que era a minha nova proposta junto com o universo.

-Em que você se transformou?

- Eu decidi que queria ser Terra. Fui Terra durante 80 anos. Continuei levando felicidade para as pessoas desta família, só que de uma forma diferente. Eu dava meu corpo Terra para que eles pudessem plantar em mim o alimento que matava a sua fome.

- E depois, o que aconteceu?

- Minha missão como Terra acabou e eu resolvi ser uma Pedra. Vivi como pedra 5000 anos.

- Poxa! Muito mais do que nas duas primeiras vezes. Deve ser melhor ficar mais tempo lá, ne.

- Não é melhor e nem pior. Não faz a mínima diferença. Viver algumas horas ou milhares de anos é a mesma coisa no relógio do universo, pois o que vale é a intensidade da experiência e a capacidade de cumprimos a nossa proposta. E, toda vida que vivi; vivi intensamente e cumpri a minha missão.

-  E, o  que  você fez como Pedra?

- Eu ensinava para os seres o valor das alturas. Eu era um pico muito alto. Todos os seres que me escalavam faziam descobertas muito importantes para a vida deles.  Mas, de um grande Pico, eu resolvi me transformar numa pequena e valiosa pedra. Morri como pico e me transformei num Diamante. Fui Diamante durante 2000 anos. Cheguei a ser descoberto na natureza e me transformei num anel de brilhante que coroou o casamento de um casal que viveu feliz durante 70 anos. Eu era o símbolo do amor deles. Foi muito gostoso ser o símbolo do amor deles também.

- Por isso me deu o nome de Brilhante?

- Por isso também. Voce tem uma luz que reflete muito amor. É rara e valiosa como a pedra que fui. Tens a existência toda para descobrir isto. A cada vida a gente descobre mais e mais o nosso valor.

- De Diamante você se transformou em que?

- Fui água de um rio. Molhei a terra que fui um dia, matei a sede de muita gente, apaguei o fogo que também fui um dia. Enfim, flui, flui, flui! Como é gostoso fluir!!!

- Quanto tempo você foi água?

- Há!!! Nem me lembro mais. Acho que me deixei levar e me perdi no tempo. Mas, como lhe disse, pouco importa o tempo que a gente fica. No final das contas é tudo a mesma coisa.

- Me conta mais!

- Depois fui tanta coisa... Se eu for te contar tudo que fui, iremos passar uma grande parte de nossa existência aqui contanto as histórias de minha vida.

- O que não seria nada mal, pois adoro histórias. Me conte só mais duas? Por favor!

- Tudo bem. Mais recentemente resolvi ser uma árvore. Fui uma árvore centenária. Cumpri bem o meu papel de ajudar o planeta a respirar melhor. No entanto, o Ser humano nem sempre faz a parte dele. Tenho visto o propósito de muitas árvores e o acordo destas com o universo ser desrespeitado e interrompido pelo Ser Humano

- Voce nunca foi ser humano?

- Já fui centenas de vezes. Já fui gente de todas as idades, raças, personalidade. Já morei em todos os lugares do planeta Azul. É muito bom também ser gente, embora tenha muita gente confusa na Terra.

-Terra? Que lugar é este?

- Opa! Me esqueci de lhe dizer que o Planeta Azul se chama Terra.

- Terra! É para lá que estou indo. Já decidi o que quero ser. Vou firmar o meu propósito junto com o universo. Sei o que quero ser e o que preciso fazer.

- Como assim? Como é que você descobriu assim, tão repentinamente?

- Quando você falou no Ser humano, meu coração bateu mais forte. E, a força do nosso coração sempre diz muito de nós mesmos.

- Então, a única coisa que posso lhe dizer é: Boa Viagem!

- Além de boa viajem, eu queria que você me contasse só mais uma coisinha...

- O que,  querida?

- Eu vou ser feliz?

- Ser ou não feliz... A escolha é toda sua!

- Então, eu posso lhe dizer com toda certeza que já fiz a minha escolha.

- Mas eu não quero saber agora. Quando voce cumprir a sua missão lá e desejar retornar aqui para este nosso lar, voce vai contar não só a sua escolha, mas toda a sua história. Aí, vai ser a minha vez de escutar.

            Brilhante nasceu na Terra como Ser Humano várias vezes e sempre viveu muito feliz. Todas as vezes que retornava para o seu antigo lar voltava repleta de histórias para contar. Poderosa adorava ouvi-las. Cada vida na Terra era uma emocionante aventura. Aprendeu muita coisa e ensinou muita coisa também.  E, se voce que acaba de ouvir esta história desejar conhecer as aventuras de Brilhante na Terra, prepare-se! Voce vai ter ainda muita história boa para ouvir. Vai descobrir em cada aventura de Brilhante como ela desvendou o mistério da vida e da morte.



quarta-feira, 19 de setembro de 2012

ASA QUEBRADA


Dedico esta história a todos aqueles que desprezam suas asinhas quebradas
 
 

Era uma vez um passarinho muito especial, embora, ele próprio não soubesse que era. Ele se achava um pássaro pior do que os outros. Sabe porque? Porque ele nasceu com suas asinhas quebradas e não conseguia voar. E o nome dele? Voce pode imaginar qual era? Na verdade, ninguém sabia o seu nome, mas todos sabiam bem o seu apelido. O apelido dele era Soluço. Ele ganhou este apelido de seus amigos porque vivia soluçando – soluço de choro e lamentação. Soluço chorava muito lamentando suas asinhas quebradas. Queria ser como os outros pássaros. Queria ter asas fortes e poder voar.

A mãe de Soluço não podia resolver este problema do filho, mas fazia de tudo para ajuda-lo. Embora, Soluço não soubesse ainda, a sua mãe sabia uma coisa muito importante – sabia que ser um pássaro feliz era mais importante do que ter asas fortes e poder voar. Mamãe sabia que nem todos os pássaros que voavam e que tinham suas asas perfeitas eram felizes. Ciente disto, dizia sempre para o filho:

- Meu filho, o importante é ser feliz! Felicidade não se conquista com estas asas que voce vê e que deseja tanto, mas sim com as asas que voce não vê e que são perfeitas e fortes em voce.

Soluço achou estranho este papo da mamãe. Nunca pensou que pudesse ter asas fortes e perfeitas. Onde é que mamãe conseguiu ver nele estas asas? Confuso, perguntou para sua mãe:

- Será que voce não está com algum defeito de visão, mamãe? Eu não tenho estas asas que voce diz que eu tenho. Eu só tenho estas asinhas frágeis e quebradas que jamais me permitirá voar.

         A mãe deu algumas bicadas afetuosa na cabeça do filho e respondeu:

- Meu filho, voce é quem está com problema de visão. Vou manda-lo para um oftalmologista da alma.

- Oftalmologista da alma? O que é isto? Perguntou Soluço.

-É um pássaro muito especial que fará voce se enxergar melhor. Respondeu mamãe com muita ternura.

-Mas, eu não quero me enxergar melhor, eu quero voar melhor. Retrucou Soluço já chorando.

- Não há como voce voar sem curar primeiro a sua visão. Salientou a mãe.

Soluço não queria se consultar com o tal oftalmologista da alma, mas a mãe lhe pediu tanto que Soluço acabou cedendo. Foi até lá e ficou muito surpreso com o consultório do tal oftalmologista. Era um lugar diferente de todos que já tinha ido. Era, na verdade, o lugar mais bonito que teve a oportunidade de conhecer. Era um lugar especial na natureza, diferente de tudo que já tinha visto até então. Antes que abrisse o bico para manifestar qualquer expressão de contentamento ou surpresa, apareceu diante de si um pássaro branco gigantesco, diferente de todos que havia conhecido ao longo da vida. Além de gigante, ele tinha algo muito diferente de todos os pássaros e da maioria dos seres que conhecia na natureza – ele não tinha olhos. Soluço, além de surpreso, achou aquilo muito esquisito e antes que desse seu primeiro pio, o pássaro branco lhe perguntou:

-Assustado comigo, Soluço?

Soluço ficou sem jeito de dizer que achava ele muito estranho, preferiu continuar calado. O pássaro branco continuou:

- Voce veio aqui aprender a voar?

- Eu não posso voar. As minhas asas são frágeis e quebradas. Afirmou Soluço.

O pássaro branco deu uma longa risada advertindo-o com brandura:

- Que pena que voce pense assim! Tudo aquilo que a gente acredita se concretiza. Pelo jeito, voce nunca vai conseguir tirar seus pés do chão.

- Como é que eu poderia com estas asas defeituosas? Questionou Soluço.

-Desde quando isto é um defeito, Soluço? Perguntou a grande ave.

- Muitos amigos meus mechem comigo dizendo que sou um pássaro deficiente. Os outros que não mechem, olham para mim com muita pena. Lamentou Soluço, soluçando aos prantos.

- Deficiente é a forma deles  enxergá-lo e à vida. Ponderou o pássaro branco.

-Como assim, grande pássaro? Eu não estou entendendo o que você quis dizer.

- Porque está também com seu olhar doente. As pessoas de olhar doente que conviveram com você lhe contaminaram com uma doença muito séria chamada cegueira.

- Mas, você é quem  parece cego, pois nem olhos você tem.  Eles, por outro lado, possuem olhos normais. Retorquiu Soluço.

- Uma normalidade assustadora! Advertiu com censura o Pássaro Gigante.

- Como assim? Perguntou, surpreso, engolindo um soluço já pronto para sair.

- Armados com esta normalidade assustadora, os cegos da alma se tornam insensíveis e acabam ferindo muita gente. A armadura que usam para se defender da própria cegueira não lhes permitem sentir prejudicando ainda mais a visão do espírito. Alertou O Grande Pássaro.

- Você está querendo me dizer que a nossa alma enxerga? Perguntou Soluço.

- Mais do que isto. A nossa alma além de enxergar, ouve, se movimenta, enfim,  é portadora de todos os sentidos que o nosso corpo possui  e alguns mais que o nosso corpo não tem. A nossa alma é muito mais aprimorada que o nosso corpo. Quem sente, vive e se expressa através dela se torna um ser extraordinário. Salientou o Grande Pássaro.

-Ser extraordinário... O que é isto, Pássaro Gigante?

- Um ser extraordinário é um ser muito especial, capaz de fazer coisas inacreditáveis e capaz de viver de uma forma especial sem se  preocupar em se comparar com os outros e fazer as coisas que estes outros fazem, pois ele sabe que é diferente e que é na sua diferença que reside o seu poder de ser extraordinário. Explicou o Pássaro Gigante sem olho.

- Quer dizer então que a minha diferença não faz de mim um pássaro pior do que os outros? Surpreendeu-se Soluço irradiando sua primeira centelha de esperança.

- Isto mesmo! Mas apenas se você souber olhar para ela com os olhos da alma. Se olhar para si como um coitadinho, não verá nada de extraordinário em você; se verá apenas como um pássaro repleto de deficiências. Alertou o Grande Pássaro.  

- Você me ajuda a olhar com os olhos da alma, Grande Pássaro?

- Antes de ajudá-lo, é necessário que você deseje isto com o seu coração. A minha ajuda não provocará nada em você sem a força de seu desejo. Atentou o Gigante sem olho.

- Eu desejo, eu desejo! Expressou Soluço batendo as suas asinhas com a energia da esperança e do otimismo dentro de si. No meio de tanta euforia, seus pezinhos saíram do chão pela primeira vez. Nunca havia experimentado um vôo, mesmo que ainda baixinho. Assustado consigo mesmo, ao invés de soluço, deu um grito estridente: - “Consegui!” Mas se estabacou no chão logo em seguida.

Seu entusiasmo se transformou rapidamente numa grande frustração trazendo de volta seu soluço. Com seus olhinhos lacrimejando lamentou com o Grande Pássaro:

- Está vendo! Dá tudo errado! Eu não consegui voar como os outros pássaros.

- Estou vendo sim... Estou vendo que você está novamente se vendo com os olhos do corpo ou,  mais precisamente, com os olhos de  um ego ferido.

-Ego? Que palavra esquisita! O que é isto? Perguntou Soluço confuso.

- Ego é uma parte orgulhosa e arrogante da gente que anseia ser perfeita, apesar de ignorar a verdadeira perfeição. É a parte que se compara o tempo todo com o outro e deseja ser mais que todo mundo. Querendo ser mais se esquece de ser ele mesmo. Esta parte não gosta daquilo que a gente é de verdade;  gosta,  apenas,  daquilo que gostaria de se tornar um dia. Acaba se tornado, muitas vezes, o nosso pior inimigo. Explicou o Grande Pássaro num tom de alerta.

-Voce quer dizer que o nosso pior inimigo está dentro da gente? Perguntou Soluço arregalando seus olhinhos assustados.

-Isto mesmo! Se souber vence-lo, nenhum pássaro, por pior que seja, vai incomodar você. Afirmou o Grande Pássaro.

- E como se vence o inimigo que está dentro da gente? Perguntou Soluço exalando curiosidade.

- Deixando de fazer o que você acabou de fazer. Quando você tirou os pés do chão, ao invés de se alegrar e valorizar o início desta grande conquista, você  se deixou ser levado pelos desejos de seu ego, só deu importância a eles. Explicou o Pássaro Gigante de gigantesca sabedoria.

- E, qual o desejo de meu ego? Perguntou Soluço.

- Voar alto como muitos pássaros que você admira. Afirmou o Pássaro sem olho como se estivesse enxergando a mais profunda essência de seu ser.

- Desejar isto é ruim? Questionou soluço.

- Pode ser muito bom quando você sabe esperar o momento certo para conseguir isto. E pode ser uma tragédia quando você despreza aquilo que você é e aquilo que voce conseguiu com tanto esforço conquistar. Você pode até não ter voado alto, mas conseguiu tirar os pés do chão, coisa que você nunca conseguiu antes. Para derrotar seu inimigo, você precisa ser primeiro um grande amigo de si mesmo. Um verdadeiro amigo nos incentiva em cada conquista, por menor que ela seja. Não fica criticando e desprezando as nossas dificuldades. Alertou o Grande Pássaro.

- Você tem razão! Acho que não tenho sido um bom amigo para mim. Ponderou Soluço.

- Pois então,  trate se ser o seu melhor amigo e você se tornará uma pessoa extraordinária. Fará coisas que jamais imaginou que daria conta de fazer. E não dará importância alguma para aquilo que não é importante você conquistar. Se tornará menos avarento e se contentará com o essencial.

- Como eu posso ser meu melhor amigo? Perguntou Soluço querendo iniciar uma amizade verdadeira consigo mesmo.

- Primeiro, se aceitando do jeito que você é sem jamais impor a si mesmo ser alguém que você não quer ou não dá conta de ser. Isto pressupõe ter um grande respeito por si mesmo. Segundo, se incentivando a lutar por tudo aquilo que é, de fato, importante para você. E não por aquilo que é importante para os outros, para seu ego doente ou para o inimigo que mora dentro de você. Terceiro, valorizando todas as suas conquistas, mesmos as menores conquistas. Quarto, dar apoio a si mesmo diante das derrotas, pois todos nós fracassaremos em algum momento de nossas vidas. Apoiar-se pressupõe ser tolerante com seus limites ao mesmo tempo que incentiva a sua superação. O quinto passo é estar sempre vigilante para que você possa anular qualquer pensamento ou atitude onde o seu inimigo interno esteja lhe desqualificando. Antes que o Grande Pássaro pudesse continuar ditando suas normas, Soluço o interrompeu:

- Como assim? Pode me explicar melhor este passo?

- É claro! Se o seu inimigo interno disser: Você não pode! Deixe que sua alma diga: Você pode!

Se o seu inimigo disser: Você é incapaz! Ouça a sua alma dizer: Você é capaz! Se o seu inimigo lhe mostrar suas deficiências; olhe para o olho de sua alma que ela lhe estará mostrando o verdadeiro sentido delas e muito mais do que isto; o potencial escondido por detrás de todas elas. Explicou cheio de entusiasmo o Grande Pássaro.

- Estou começando a entender, grande pássaro! Expressou Soluço serenamente e repleto de admiração pelo seu mestre.

 O Pássaro, mesmo sem olhos, olhava no fundo dos  olhos de Soluço. Que olho era aquele? Pensava Soluço. Com certeza, devia ser os olhos da alma. Com o olhar fixo em Soluço, continuou:

- E por último, perceba-se e sinta-se sempre tão grande quanto me vê. Você é muito grande! Você se vê pequeno por usar as lentes erradas para se analisar. Toda vez que usar as lentes da deficiência, se verá pequenino demais. Quando usar as lentes de sua alma; se verá grande, um verdadeiro gigante capaz de enfrentar qualquer obstáculo.

O Grande Pássaro deu um abraço em soluço cobrindo-o com suas grandes asas. Depois deste afetuoso abraço, olhou novamente bem no fundo dos olhos de soluço e finalizou:

- Agora é com voce!

O pássaro partiu e Soluço ficou surpreso a pensar:

- Como é que ele pode me olhar no fundo dos olhos se não tem olhos. Acho que entendi uma coisa muito importante. O grande pássaro me olha com os olhos da alma. – Que olhar profundo!

Soluço compreendeu que se um pássaro sem olhos possuía um olhar tão profundo e conseguia enxergar tão bem o que a grande maioria não conseguia enxergar, com certeza, um pássaro com asas quebradas também poderia voar. Com esta nova certeza habitando seu ser, muita coisa mudou na vida de Soluço.

O tempo passou e Soluço passou a investir cada vez mais em suas asas ao invés de amaldiçoa-las. Com exercícios para o corpo e para a alma fortaleceu suas asas e conseguiu mais do que tirar os pés do chão, voar muito alto. Valorizava cada conquista que conseguia. Aprendeu a agradecer suas conquistas ao invés de soluçar suas derrotas.

Depois de muito treino e de muita fé em si mesmo, conseguiu voar até o alto da montanha mais alta da região. Contemplando o horizonte do alto da montanha, uma voz interior saiu de dentro de si parabenizando-o; parecia com a voz do grande pássaro:

- Parabéns, Soluço! Esteja sempre assim.

- Como? Perguntou, perplexo, para  aquela voz  que se parecia com a do seu grande mestre.

-Esteja sempre acima de suas dificuldades. Vendo-as de cima, elas parecerão sempre muito pequenas e voce se transformará para sempre num grande pássaro.

Feliz com tudo que acabara de ouvir foi interrompido por uma outra voz, bem diferente da anterior. Fitou seu olhar na direção desta nova voz e deparou-se com um pássaro, um antigo conhecido, que o olhando surpreso perguntou:

-Soluço?

- Soluço, não! – retrucou – Só Luz! Meu nome é Só Luz.

Pela primeira vez Soluço afirmou a sua verdadeira identidade. Nunca mais abriu mão dela. De Soluço, o pássaro de asas quebradas, passou a ser conhecido por todos por Só Luz, o pássaro iluminado. Quando os outros pássaros lhe perguntavam como conseguira fortalecer suas asas e voar tão alto, ele respondia:

- Fortaleça primeiro o seu espírito e conquistará a terra e o céu. Mais do que isto, conquistará a si mesmo.