domingo, 15 de fevereiro de 2015

CARA DE CEGONHA

CARA DE CEGONHA


Sabrina, uma menina de 5 anos perguntou a mãe:
—Mamãe, como é que você ficou me esperando?
—A cegonha lhe trouxe, querida.
—E esta barriga tão grande que está na foto, mamãe?
—A cegonha pôs você dentro da barriga da mamãe.
—Como é que a Cegonha me enfiou ai?
—Ela abriu minha barriga.
—Com que?
—Com um bisturi.
—O que é bisturi, mamãe?
—É tipo uma faquinha.
—A Cegonha te esfaqueou? Perguntou, Sabrina, assustada e com os olhos arregalados.
—Não, ela só abriu a minha barriga. Ela sabe fazer isto sem dor.
Um mês depois a mãe é surpreendida e grita apavorada:
—Sabrina! O que você está  fazendo com esta faca na mão?
—É para abrir minha barriga, mamãe.
—Pra que, minha filha?
—Para colocar a Paty lá dentro. Respondeu Sabrina apontando para a boneca ao lado.
—De onde você tirou esta ideia?
—Da Cegonha.
—Que Cegonha? Perguntou a mãe confusa como se nunca tivesse ouvido falar em Cegonha.
—Da Cegonha que me colocou na sua barriga. Respondeu, prontamente, a filha.
—Nenhuma cegonha te colocou na minha barriga, sua maluca! Repreendeu a mãe, de forma áspera,  a inocência da menina.
—Mas, foi você quem me disse isto. Justificou a filha.
—Nem tudo que a mamãe diz é verdade.
—Como assim, mamãe. Não é você que vive me dizendo para falar só a verdade?
—É,  mas...Titubeou a mãe sem saber o que dizer.
—Já entendi. Não é para falar mais a verdade.
—Não! Absolutamente! É para falar a verdade  sim. Ordenou a mãe, arrependida com a confusão que gerou na cabeça da filha.
—Não estou entendendo mais nada... Se for para falar a verdade, como é que você me falou uma mentira
—Foi por que... Por...
—Por que, mamãe? Completou Sabrina.
—Por que eu estava com vergonha.
—Já entendi tudo!
—Entendeu o que, menina! Vê se você tem idade para entender alguma coisa? Subestimou a mãe a sabedoria da filha.
—Eu entendi que você pôs cara de cegonha numa atitude sem vergonha.
A mãe quase caiu para trás. Meio sem fôlego, perguntou:
—De onde você tirou isto, menina!
—Meu coleguinha falou que a irmã dele está esperando neném...
—E o que isto tem haver com a nossa história?
—Ele falou que aconteceu isto porque ela é sem vergonha.
A mãe cada vez mais desesperada, sem saber como arrumar a bagunça que criou na cabeça da filha, lamentou exasperada:
—Que confusão eu criei na sua cabecinha. Desculpe-me, filhinha! Mamãe errou, mas promete que não fará mais isto. Eu vou lhe explicar melhor toda esta história.
A filha percebendo o desespero da mãe tentou confortá-la utilizando todo seu conhecimento infantil em processo de alfabetização:
—Preocupa não, mamãe. Você errou só por uma silaba. Trocou o Ver pelo CE. E, se a gente misturar estas letrinhas... Cer-ve – silabou a menina –  “Cerve” o que você me contou - continuou.
—Serve não, filhinha. Serve escreve com S e não com C.
—Mas, se Vergonha virou Cegonha... O S pode virar C.
—Acho melhor o S continuar sendo S e o C continuar sendo C.
—Por que mamãe?
—Porque senão um dia, a Sabrina linda que eu estou vendo aqui, pode resolver deixar de ser Sabrina para ser outra coisa que a mamãe não vai gostar de ver. Você merece ser Sabrina sempre. Para isto, eu tenho que fazer a minha parte.
—Que parte, mamãe?
—Eu tenho que te contar sempre a história verdadeira.
A mãe colocou a filha no colo e fitando-a nos olhos contou a história que toda criança anseia um dia saber. Na linguagem da filha, usando os recursos que uma criança de cinco anos é capaz de entender, ofertou à mesma, uma verdade que lhe pertencia e que jamais poderia lhe ser negada ou escondida. No final da historia, recebeu como retorno, um sorriso radiante da filha e uma opinião envolta pela simplicidade que falta a todos os adultos:
—Mamãe, esta historia é muito mais interessante! Prefiro muito mais a participação do papai do que de uma Cegonha. Esse bicho, eu não conheço e nunca vi. O papai, eu amo e vejo todo dia. 

A mãe não titubeou em dar à filha um abraço bem verdadeiro, daqueles que só quem ama muito sabe dar.

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