domingo, 13 de maio de 2012

A ÁRVORE ESQUECIDINHA


Dedico esta história a todos aqueles que estão vivenciando a dolorosa estação do outono, ou seja, do desapego e do desprendimento





Era uma vez uma árvore que vivia todos os anos o mesmo medo. Sua ansiedade se pronunciava já no final do verão. Começava a perceber que sua folhas iam ficando menos viçosas e algo dentro de ti já avisava que, em breve, deveria perdê-las. No início do outono, quando algumas folhas começavam a se desprender, a árvore esquecidinha entrava em pânico procurando segurar suas folhas já secas e sem viço em suas hastes.

-Voces não podem cair! Ficarei desnuda e feia.

Dona Borboleta Azul que já conhecia o problema da árvore esquecidinha procurava acalma-la:

- Esquecidinha, voce se esqueceu mais uma vez de uma regra básica da natureza. Há estações para todos os seres. O outono chegou e não há como mudar isto. É a estação do desapego e do desprendimento. Quem estiver passando por ela deverá se desprender de alguma coisa muito importante para conquistar algo novo e melhor à frente. Todos os anos voce passa por isso, no entanto, sempre se esquece.

-Verdade? Mas, eu não consigo me lembrar de ter passado por isto antes. Eu devo ter um problema muito sério de memória. Que tristeza! Lamentou Esquecidinha.

- Na verdade, não só voce, mas a maioria dos seres. Quando chega o outono novamente, eles parecem se esquecer que já viveram esta estação antes. Ao invés de aceitar, entram em pânico ou tentam nega-la das formas mais ridículas e inapropriadas para a energia do momento. Aceite o outono e grandes transformações acontecerão.

- Mas, eu não quero perder minhas folhas; elas são muito importantes para mim.

- Ninguém quer perder nada! No entanto, toda perda traz consigo uma grande conquista.

- Como é que vou ficar! Careca e cinzenta... Vou me sentir solitária. Não terei sombra e nem frutos para oferecer. Todos vão se afastar de mim. Estou com muito medo de viver este tal outono que voce fala.

- Voce vive o outono todos os anos, mas, infelizmente, se esquece. E, depois dele, voce se torna nova e exuberante. É depois dele que vem a folhagem nova, viçosa, cheirosa, como também, todos os deliciosos frutos que fartamente voce oferece ao mundo. Nada melhor do que a renovação. Do jeito que voce está, o que poderá oferecer? Carrega uma energia que precisa ser renovada. Neste momento, voce está se parecendo mais uma velha enrugada, cansada, doente e sem viço.

- Que garantias voce me dá de que viverei a renovação?

- Nenhuma, pois a renovação só pode ser conquistada por quem se garante. Quem não se garante fica velho e ultrapassado e acaba se afastando de tudo e de todos.

- Como assim, não entendi. Voce está querendo me dizer que me transformarei num ser solitário se eu não aceitar o outono? Perguntou, Esquecidinha, confusa.

- Isto mesmo! O mundo gira e com eles todos os seres. Se permanecer no passado não terá como conviver com quem está no presente. E sem o presente, não terá presença na vida. Ficará agarrada a lembranças daquilo que não pode mais ser e se tornará uma árvore deprimida.

- Voce pode me dizer o que é uma árvore deprimida? Perguntou Esquecidinha.

- Mais do que isto! Posso lhe mostrar.

A Borboleta Azul apontou para uma árvore seca e sem vida logo adiante de esquecidinha. Esquecidinha arregalou os olhos e pontuou assustada:

-A depressão tirou a vida desta árvore?

- Não. A principal responsável foi a sua resistência em se renovar. A depressão é só a consequência de seu comportamento. Se prendeu tanto ao passado que passada ficou.

- Eu não quero acabar assim. Me fale o que devo fazer! Solicitou Esquecidinha apavorada.

- A primeira coisa importante a fazer é não eternizar o lamento dentro de ti. Permita-se ficar triste com sua perdas, mas, abra espaços para as novas conquistas. Deixe morrer o que precisa morrer, mas deixe nascer o que precisa nascer. Os depressivos abortam toda energia nova que quer nascer. Querem viver o passado e reconstruí-lo ao invés de aprenderem com ele. Toda construção só pode ser erguida no presente. Viva a energia do presente e erga com ela os pilares de sua vida. Não importa se a energia do presente é alegria ou tristeza, certeza ou dúvida, ignorância ou sabedoria. Viva cada energia, transmutando-as. Tudo é uma coisa só.

Antes que a Borboleta Azul pudesse continuar, Esquecidinha perguntou:

- Tudo é uma coisa só! Como assim?

- Assim como o dia e anoite. Para o dia nascer, a noite tem que morrer e vice versa.

- Já entendi! Não precisa falar mais nada. Acho que preciso viver. Só isso, VIVER! E viver é aceitar a estação do momento. Me esqueci de todas elas, por conta do meu esquecimento. Mas, mais importante do que as lembranças que não tenho é a possibilidade de viver e sentir cada momento como se fosse o único. Posso me esquecer de tudo, mas daqui para frente vou fazer o possível para me lembrar do mais importante.

Esquecida de seu medo, Esquecidinha viveu o outono. Deixou que todas as folhas se desprendessem. Se recolheu ainda mais no inverno para se conhecer mais, se fortalecer e se preparar para a grande transformação. Na primavera, lá estava ela; exuberante, florida e acolhendo em seus galhos centenas de seres. Esquecidinha continuou esquecida, mas a partir daquele outono, algo diferente aconteceu. Quando indagada pelos outro seres acerca de sua impressionante beleza, dizia;

- Viver é o mais importante! E, viver é fluir por todas as experiências que a vida nos oferece.

Esquecidinha, nunca mais temeu o outono. Conseguia, em meio a sua tristeza, fazer uma piadinha que despertava o riso e o sorriso em muitos seres que compartilhavam com ela aquele momento:

- Tô careca! Que tal meu visual novo?

E, assim todos riam e o riso trazia leveza e uma mensagem importante: "Independente da estação, ele é sempre bem vindo”.




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