segunda-feira, 23 de abril de 2012

A DOR DA VERDADE


Dedico esta história às duras verdades que precisam ser reveladas com brandura


Zumbeta era uma abelha infeliz. Tinha uma auto-estima muito baixa  e  se achava pior que as outras criaturas.  Sofria muito por conta disto. Querendo ajuda-la, os seres elementais  resolveram contrata-la para uma tarefa muito importante. Pensavam: “Se ela é uma abelhinha ferida emocionalmente, talvez tenha mais cuidado para tratar a ferida dos outros seres, por sentir na pele a própria dor”. Os seres elementais sabiam que a empatia é muito importante para desencadear em todos nós o desejo de tratar o outro com mais cuidado e carinho. Empatia é a nossa capacidade de se colocar no lugar do outro. Cientes disto, convocaram uma reunião com Zumbeta para incumbi-la de uma missão importante que pudesse fazer com que se sentisse importante também.
- Estamos precisando de mensageiros da verdade.  Sabemos que voce possui capacidade para exercer com maestria este cargo. Apesar dos ferrões, tens muita doçura dentro de ti. Precisamos de seres que possam adocicar a verdade, torna-la mais leve antes de ser evocada. Esta postura protege e faz com que a dureza da mentira que esconde a verdade não machuque tanto ao ser extirpada. Apesar de já ter sido convocada para este cargo tão importante, passará por um teste para verificarmos se está suficientemente preparada para exercer com sabedoria uma missão tão nobre.
Zumbeta ficou muito feliz! Num passe de mágica viu a sua autoestima transformada. Sentia-se, agora, uma criatura importante. Sentir-se importante é algo muito bom, no entanto, se torna algo ruim quando passamos a nos sentir mais importantes que o outro. Infelizmente, foi esta transformação que aconteceu com Zumbeta. Sentindo-se mais importante que as outras criaturas por ser designada para uma missão de grande excelência,  tratou de usar o seu poder para ferir e não para cuidar. Passou de oprimida para opressora. A sua primeira missão já foi um grande fracasso. Com seu zumbido forte tratou de espalhar, sem discrição,  a todos os seres da redondeza uma verdade que deveria ser exclusividade de Formosa, a formiga mais trabalhadeira dos arredores. Zumbindo e zombando escarniava:
-Verdade é para ser dita e não para ser contida!
Espalhou a todos uma verdade que pertencia apenas a um único ser. Gerou uma grande ferida em Formosa. Doída, não conseguia sequer  trabalhar. Trabalhar é coisa que formiga sabe fazer bem, mas ferida por uma verdade mal contada, pode se sentir amputada. Demorou muito tempo para Formosa se reestabelecer.
Na sua segunda e última apresentação da verdade, agiu de forma ainda mais dura. Usou o seu ferrão e não o seu mel para oferta-la a Pedroso , o tatu mais preguiçoso da região. Fincou o seu ferrão no casco duro de Pedroso e escarniou:
- Uma boa ferroada acorda e levanta. Durma com esta!
Depois disto tudo, Zumbeta foi demitida de seu cargo. Sentindo-se injustiçada, procurou os seres elementais para esclarecer os motivos de sua demissão.
- Que injustiça! Voces me deram um cargo importante e o toma de mim num passe de mágica? Tratei de cumprir a minha missão rapidamente e com a firmeza que uma autoridade requer para garantir credibilidade e respeito. No entanto, ao invés de palmas, recebi uma carta de demissão. O que está acontecendo? Zumbiu zangada.
- Está acontecendo tudo que não poderia acontecer nunca. E, diante de tudo que aconteceu, sentimos que, neste momento especificamente,  voce não está ainda preparada para esta missão. Acho que precipitamos. Talvez, esteja preparada para um outro cargo.
- O que eu fiz de errado? Zumbiu Zumbeta.
- Voce ofertou a verdade sem acolchoa-la com seu mel. Querendo ser rápida atropelou o tempo certo que o outro precisava para dar conta de acolhe-la. Não preparou o terreno arenoso da mentira para receber a semente da verdade. Num terreno árido, nenhuma semente, por mais valiosa que seja, pode desenvolver. Precisamos fertilizar a terra que receberá a semente da verdade. Voce teve pressa e desperdiçou sementes valiosas. Mas, entendemos a sua dificuldade. Não estamos julgando os seus erros. Acho que voce precisa de um preparo maior para exercer esta missão no futuro.
-  Mas, eu quero esta missão para agora. Isto não é justo! Perdi os meus melhores ferrões neste trabalho e sou demitida assim, sem perdas e danos.
- Em nenhum momento solicitamos a voce usar o seu ferrão, por menor que ele fosse. Aliás, pedimos que tomasse muito cuidado com os mesmos, pois sabíamos que voce poderia ferir. Voce foi incentivada a usar o seu mel e não fez isto.
- Com muita doçura, ninguém iria acreditar naquilo que eu estava dizendo. Eu não seria respeitada. Justificou Zumbeta. 
- Mas, voce não foi contratada para ser respeitada. Voce foi contratada para levar a verdade e o respeito que deve acompanha-la a todos os seres que dela precisasse. Um ser vitimado pela mentira sofre muito ao ter que arranca-la de dentro de seu ser. A verdade tem que entrar como um hidratante para amaciar a secura , a rudeza e os estragos que uma mentira causa na pele emocional de um ser. Voce feriu ainda mais usando o seu ferrão.
- Fiz tudo isto com as melhores intenções. Afirmou Zumbeta querendo se justificar.
- Acreditamos nas suas boas intenções. Aliás, de boas intenções o mundo está cheio. Antes de agirmos com boas intenções, precisamos apenas avaliar se o outro necessita desta intenção que desejamos ofertar.
- Como assim? Perguntou, confusa, a abelhinha Zumbeta.
- Nada melhor do que uma boa prática para voce entender isto. Daremos a voce uma missão tão importante quanto a anterior.
- Verdade! Exclamou Zumbeta.
- Verdade! Confirmaram os seres elementais.
- Que missão tão importante é esta?
- Voce terá, agora, a grande missão de levar a verdade  a si mesma. Quando souber fazer isto bem, será readmitida para levar a verdade ao outro. Prepare o terreno do seu coração com sua melhor intenção. Voce merece!
Zumbeta achou estranha aquela nova missão. No início não gostou muito dela, mas tratou de comprometer-se, pois sabia que se desse conta do recado seria readmitida. Demorou muito tempo para Zumbeta compreender que a verdade não é dura. Dura é a mentira que encobre a verdade. À medida que esta abelhinha foi tomando consciência de suas mentiras e se comprometendo com suas verdades, uma linda colmeia foi sendo construída. Hoje, a colmeia de Zumbeta é a maior e mais produtiva da região. Todos  os seres feridos  pela mentira buscam na doçura de seu mel uma medicação  para tratar a dor. Zumbeta, de abelha “zumbeteira”  passou a ser conhecida por todos como a abelhinha do bem.

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